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Análise

EUA considerados "os facilitadores" dos excessos de Israel

Pedro Cordeiro, editor de Internacional do Expresso, analisa o conflito entre Israel e o Irão e fala sobre o apoio que os EUA estão a dar ao país, uma vez que são o "maior e mais poderoso aliado de Israel".

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Na manhã desta quinta-feira, um meio de comunicação israelita anunciou que os Estados Unidos estão a apoiar a operação militar de Israel em Rafah em troca de uma não retaliação ao ataque do Irão. Pedro Cordeiro diz que isto é “um exercício de influência por parte de Washington”.

A confirmar-se este anúncio, trata-se de uma espécie de mal menor aos olhos da Administração Biden.

“Será um exercício de influência por parte de Washington. Os Estados Unidos são o país que melhores condições tem para influenciar Israel, e não são muitos os que têm, e será uma contenção imposta por Washington para dar aval a uma incursão que talvez o Governo israelita não fizesse face à oposição pública dos Estados Unidos”, refere o editor de Internacional do Expresso.

Pedro Cordeiro afirma que este apoio em troca da não retaliação ao ataque do Irão “é Washington a tentar controlar danos” e a tentar que o Governo de Netanyahu, que até agora não se tem mostrado muito preocupado com qualquer tipo de contenção, "faça agora algo diferente".

O comentador explica que Joe Biden tem influência sobre Benjamin Netanyahu porque os EUA são o maior e mais poderoso aliado de Israel.

“Desde logo os Estados Unidos dão apoio militar importante a Israel e depois há a cobertura política”

“Washington tem tentado exercer a sua influência e aqui essa cobertura política e pública, apesar de tudo, interessa a Israel. Não interessa a Israel arriscar-se a perder (…) o apoio dos Estados Unidos, não é que ele esteja em causa no cerne, mas os moldes e a forma como é prestado pode mudar ao sabor das coisas que vão acontecendo e, por outro lado, também não interessa a Israel aparecerem em colisão pública com o seu maior e mais poderoso aliado", acrescenta.

O editor de Internacional do Expresso diz também que esta cobertura política que os EUA dão a Israel leva o país, o Presidente Biden e todos os seus antecessores a serem criticados “por serem os facilitadores, do que a opinião pública vê, como os excessos de Israel”.

"E é verdade que, sem pôr em causa a legitimidade da autodefesa de Israel face ao atentado terrorista de outubro passado do Hamas, é inegável (…) que não houve de maneira nenhuma o cuidado que tinha de ter havido, à luz do direito Internacional, para proteger as populações da Faixa de Gaza."

Israel vai retaliar contra o Irão

Mesmo assim, a pressão de Joe Biden só chega até certo ponto porque Israel já disse que vai retaliar, apesar de referir que vai esperar pelo fim da Páscoa Judaica. Pedro Cordeiro diz que esta decisão de Israel permite ganhar tempo para tentar conter a retaliação.

"A condenação pública também ao Irão (…) é, de alguma forma, uma aproximação ao Governo de Israel.", refere. “Por um lado, critica-se, por outro lado, dá-se algum conforto e diplomacia e isto, às vezes, pode não parecer edificante, pode parecer que são cedências, mas a diplomacia tem que ter algum pragmatismo.”

O jornalista explica ainda que o Governo israelita neste momento é “um Governo muito radical” e que, por isso, pode ser menos recetivo a influências e isso “é difícil de gerir”.

"Eu julgo que Israel estaria mais bem servido com qualquer outra solução de governo que não envolvesse estes atores" que envolve neste momento, mas “sendo com eles que há que trabalhar, os outros países, seja a União Europeia, seja os Estados Unidos cujo apoio a Israel, insisto, não está em causa, vão ter de trabalhar o melhor que possam com isto e arranjar as melhores soluções possíveis, que estão longe de ser ideais e que muitas vezes nos revoltarão.”

A tensão crescente no conflito faz com que Israel faça alguns avanços e começam a surgir suspeitas de que o país possa estar a usar armas de fósforo branco, na região sul do Líbano e nos ataques contra o Hezbollah, que são consideradas um grande perigo para para a saúde pública e são fortemente condenadas por organizações de defesa dos direitos humanos.

Pedro Cordeiro termina a dizer que estas alegações, caso se confirmem, não o surpreendem e afirma que reage “com tristeza, mas não com surpresa”.

"Não é inédito e não será exclusivo de Israel e deve ser rara a guerra em que as partes (…), sejam as partes que nós vemos como as más ou as partes que nós vemos como as boas em cada guerra" não têm “os excessos, utilização de armas que põe em causa a saúde pública e a vida dos civis.”

“O desrespeito pelos direitos humanos, infelizmente, acontecem praticamente sempre, são o cerne da guerra”, conclui.

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