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Sinel de Cordes: “Acho que Ronaldo é prejudicial à seleção e vai estragar este campeonato da Europa”

O amor inexplicável que tem por Messi, a crítica ao individualismo de Cristiano Ronaldo e a recente polémica no espetáculo “Morro amanhã”, que levou várias pessoas a pedir-lhe para nunca mais entrar numa sala, são alguns dos temas de conversa entre Sinel de Cordes e Luís Aguilar.

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Na eterna discussão entre Cristiano Ronaldo e Messi, o humorista Rui Sinel de Cordes não tem dúvidas. Já chegou a escrever que “acompanhar a carreira de Messi foi o maior privilégio artístico, desportivo e, em muitos aspetos, humano” da sua vida.

Na preferência clubística também não há espaço para qualquer clube português: “Sou adepto do Barcelona ainda antes do aparecimento de Messi. Vem de miúdo. Daquelas coreografias de estádio inteiro, de Romário e Stoichkov, mais tarde de Ronaldo Fenómeno ou Ronaldinho Gaúcho.”

Com o aparecimento de Messi, “um miúdo que na altura tinha 16 anos”, garante que a ligação ao Barça atingiu outro nível.

“Às vezes tenho dificuldade em explicar o amor que tenho a esse homem e este amor que tenho a um clube que não é do meu país.”

Para que se possa ter uma ideia da força desta ligação, Sinel de Cordes entrou em negação quando foi anunciado que Messi iria trocar o Barça pelo Paris Saint-Germain: “Tive um dia ou dois em que não percebia o que estava a acontecer. Em que esperava que viesse alguém com poder suficiente e desfizesse aquilo tudo. Por isso é que o Mundial do Qatar teve ainda mais importância para mim. Porque aquela ida para o PSG não podia ser o fim de Messi.

Sobre Ronaldo, admite que é um dos melhores da história e elogia a luta que este sempre deu a Messi: “Apesar de ter perdido de todas as formas com o Messi, continua, sempre, e valorizo o seu esforço. Imagina, és tão bom, mas há um gajo que consegue ganhar os títulos que querias e mesmo assim não desistes. Mas continuo a achar que Ronaldo é prejudicial à seleção e vai estragar o campeonato da Europa. Já não tinha gostado da má forma de liderança como capitão que mostrou no Mundial. Com ele é tudo muito individualista e essa parte sempre me afastou.”

“O que aprendi na terapia foi a não apontar logo o dedo ao outro quando faz m****”

No último mês de Janeiro, Rui Sinel de Cordes foi notícia um pouco por todo o lado. Durante o espetáculo “Morro Amanhã”, de homenagem ao falecido humorista Ricardo Vilão, o qual Sinel de Cordes fez em conjunto com Salvador Martinha e Luís Franco-Bastos, o humorista envolveu-se numa troca de palavras com uma pessoa do público e deixou alguns insultos.

Sinel de Cordes não demorou a pedir desculpa e a intitular a situação como “uma noite de falhanços”.

Apesar de admitir o erro, gerou-se um grande movimento de contestação nas redes sociais e o espetáculo seguinte, marcado para o Porto, acabaria por ser cancelado: “Esse cancelamento [do Morro Amanhã] foi algo que me ultrapassou e nada podia fazer, mas na sequência deste episódio, tive duas realidades.

Uma delas super tolerante porque tenho salas cheias no meu espetáculo [King Cordes], outras pessoas mais desconfiadas, que não gostaram, mas que vão ver o espetáculo para ver se eu falo no assunto, e falo, e outras que acharam imperdoável e não quiseram ir ver-me. E está tudo bem.”

Sinel de Cordes, porém, prefere focar-se no lado da tolerância: “As pessoas podiam devolver os bilhetes já comprados para o meu espetáculo a solo e não o fizeram. E nem recebi hate mail porque já estava tudo a dizer mal cá fora [risos].”

“Parece que tinha morrido, mas não”

Mais importante para o humorista foram os amigos que o contactaram para dar apoio: “Tive uma experiência em que parece que tinha morrido, mas não. Todos os meus amigos me ligaram a dizer o quanto gostavam de mim. Depois recebi milhares de mensagens de pessoas que têm ido a todas estas salas onde faço o espetáculo e que sentiram que aquela foi a pior fase da minha vida profissional e que inclui depois a pessoal porque sou muito ligado ao meu trabalho.”

Foi nesse momento, revela, que as pessoas contaram-lhe histórias que ele nem sabia e que o ajudaram a vir para cima: “Tive pessoas que me diziam: ‘Uma vez, estava na merda, disseste-me uma cena..’ , coisas assim, para me darem moral. E isso ajudou-me imenso a sair daquele buraco.”

Depois de passar por esta situação, também com o caminho de desenvolvimento pessoal que procura ter, parte dele através da terapia, que considera fundamental nesse processo, Sinel de Cordes admite que, durante muitos anos, não era a pessoa mais tolerante às falhas alheias, mas tem vindo a mudar essa parte.

“Se tiveres essa intolerância em relação aos outros, olha a fragilidade em que te colocas? É só olhar para o relógio. Vais lixar-te em algum momento. E depois muitos são hipócritas e colocam-se numa numa posição em que assinalam as falhas dos outros e nunca as deles. Bom é estar noutra. Dizer, ‘meu amigo, falhaste? Relaxa, todos falhamos.’ E assim ganhas uma vida. Quando fizeres m***, já vão ser mais compreensivos contigo. Se te queres evidenciar, esta é uma forma muito melhor do que mandar os outros para baixo porque falharam.”


“Imagina um jogador que falha um penálti nunca mais poder jogar futebol”

Apesar das mensagens de apoio há sempre o outro lado, mais intolerante, o qual Sinel de Cordes também sentiu na pele depois do episódio mais tenso que viveu com uma mulher da plateia no espetáculo de homenagem ao falecido humorista Ricardo Vilão.

“Estamos num mundo de filtros, plasticidade e de falsa felicidade associada a isso tudo. Isso faz com que muitas pessoas se confrontem sempre com a sua vidinha, que não é assim tão má, mas comparada com tudo o que tu vês parece uma trampa e isso gera reações mais agudizadas. Foi dito a muitas pessoas que todas iriam ter os seus 15 minutos de fama, muitas não têm e reagem mal a isso. E depois há essa falta de tolerância.”

Como ponto máximo desse lado negativo, Sinel de Cordes dá um exemplo: “Tive pessoas a pedir para eu nunca mais entrar numa sala de espetáculo. É tipo o jogador que falha um penálti e nunca mais pode jogar futebol.”



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