Nasceu em outubro de 1979 em Lisboa. De cabelo à tigela “mal cortado”, sonhou ser carpinteiro, depois arquiteto, mas acabou na cozinha.
O pai era fotógrafo amador. Morreu quando tinha sete anos. “Há uma dor muito grande na morte do meu pai mas também há uma dor muito grande na tristeza da minha mãe”. A mãe ficou viúva aos 34 anos, com dois filhos pequenos. “Nunca mais casou ou voltou a amar ninguém. Hoje tenho pena disso”.
A família tinha uma quinta, perto da praia do Guincho. Precisava de obras e o pai recuperou a casa. Mudaram-se para lá um ano antes dele morrer. A mãe ainda lá vive, é o seu “porto de abrigo”.
Em criança ia de bicicleta para o Guincho apanhar percebes, chocos e lulas com um anzol e uma vassoura.
É trineto do primeiro conde de Burnay. É Ereira do lado do pai e Avillez do lado da mãe. Todos os domingos lanchava em casa da avó com os 20 primos.
No 5.º ano, apanhava o autocarro para a escola, na Pampilheira, perto de um bairro social. Lembra-se dos “miúdos alemães” que lhe atiravam pedras no caminho para as aulas. Era protegido pelo grupo da irmã mais velha, mas não se livrou dos “calduços” por se “vestir à betinho”.
A mãe era assistente social e o ordenado era baixo. "Mas nunca nos faltou nada", assegura. Para ganhar algum dinheiro, porque a semanada de 50 escudos, 25 cêntimos, não chegava, começou a fazer e a vender bolos, os barcos que fazia à mão com cascas de árvore e as marionetas com pinhas.
Sempre gostou de carpintaria. Queria ser arquiteto, mas licenciou-se em Comunicação Empresarial. Nunca quis ser chef. “Gostava mais de comer e beber!”, confessa.
Foi num trabalho para a faculdade sobre gastronomia portuguesa que conheceu Maria de Lourdes Modesto e lhe confessou “a medo”: “quero ser cozinheiro”.
Com 21 anos foi bater à porta do restaurante de um dos chefes mais conceituados. “Disse que queria trabalhar lá, sem receber, só para aprender. Todos se riram e acharam que não ia aguentar dois dias”. Durante seis meses trabalhava de dia e à noite estudava.
“Quando entrei na cozinha o meu coração disparou. Percebi que era o que queria fazer para o resto da minha vida”, conta.
Viveu no Brasil, depois de deixar o projeto 100 Maneiras com Ljubomir Stanisic. Quando regressou a Portugal assumiu a chefia do restaurante Tavares e “tudo mudou”.
É o chef português com mais estrelas Michelin. São 3, mas o estrelato não lhe subiu à cabeça. “Também queimo um bife a cozinhar em casa porque estou distraído”.
Tem 16 restaurantes, um deles no Dubai e outro em Macau. Tem 470 trabalhadores. Passa “noites em claro” a pensar, nem tanto em receitas, mas no que falta fazer.
José Avillez é o convidado do novo episódio do Geração 70. Numa conversa com Bernardo Ferrão falou sobre o estado atual do país. Mostra-se desiludido com quem não vota e critica a forma “clubística” como a política é vivida. “Voto em quem acredito e tem propostas para o país”.
Durante a pandemia - uma das fases mais difíceis para a restauração - foi “assessor privado” de pequenos restaurantes, teve um papel ativo junto do Governo e foi o cozinheiro lá de casa, “coisa rara”.
Admite que não acompanha o que diz o Chega e André Ventura, mas numa altura em que o país volta a falar da imigração sublinha que 50% dos seus trabalhadores são imigrantes e que “sem eles os restaurantes não funcionam”. Ouça a entrevista.