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Ex-provedor da Santa Casa garante que Governo sabia e autorizou negócios no Brasil

Edmundo Martinho fala também em interesses escondidos por trás da atenção recente dada à Santa Casa. Teme que se queira a privatização dos jogos sociais, o que, garante, seria um “erro fatal”.

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Edmundo Martinho afirma que foi autorizado pelo Governo a fazer o investimento, considerado ruinoso, no Brasil. O anterior provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foi ouvido, esta manhã, no Parlamento, e deixou ainda o aviso de que a eventual privatização da Santa Casa será um desastre.

Para que não subsistam dúvidas, o antigo provedor garante que teve aval da tutela para iniciar o processo de internacionalização.

"Eu falei, na altura, com a tutela da Santa Casa – ainda era o ministro Vieira da Silva. Dei-lhe conta deste entendimento e [perguntei] se, do ponto de vista dele, havia algum obstáculo a que avançássemos no estudo e no aprofundamento desta ideia”, assegura Edmundo Martinho.

“A resposta que obtivemos foi favorável, ou seja, devíamos avançar, e depois logo se faria, de acordo com a sequência dos acontecimentos e do estudo, de que forma é que isto podia avançar”, sublinhou.

As diferenças entre o antigo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a atual provedora (exonerada) Ana Jorge ficaram expostas na audição a que foi sujeito Edmundo Martinho.

“Ainda antes sequer de haver qualquer espécie de conclusão ou de haver qualquer relatório preliminar da auditoria da BDO já a atual provedora vem falando da existência de ilegalidades (...), sem especificar nenhuma dessas ilegalidades”, declarou o antigo provedor, referindo-se à auditoria externa à atividade internacional da Santa Casa, feito pela consultora BDO.

As questões dos partidos

O processo de internacionalização da Santa Casa terá gerado prejuízos de milhões de euros, que os grupos parlamentares da Iniciativa Liberal e do Chega quiseram esclarecer numa audição parlamentar.

“Esta internacionalização originou um prejuízo potencial de 50 milhões de euros”, sublinhou Vanessa Barata, deputada do Chega, que questionou Edmundo Martinho sobre que estudos foram feitos antes da criação da Santa Casa Global e da internacionalização dos jogos sociais.

Mariana Leitão, deputada da Iniciativa Liberal, quis saber quais foram as informações prestadas pelo antigo provedor à tutela, uma vez que a ex-ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, alega desconhecer os vários investimentos realizados no âmbito do processo.

A restante oposição também fez eco das preocupações suscitadas em praça pública.

Pelo PS, Miguel Cabrita questionou qual o efeito da entrada do jogo online a nível do financiamento da Santa Casa e quais as consequências do modelo desenhado em 2015, antes da chegada dos socialistas ao Governo.

José Soeiro, do Bloco de Esquerda, lembra que o antigo provedor Santana Lopes fala num interesse oculto, nomeadamente a privatização dos jogos da Santa Casa, e pergunta se PSD, Chega e IL são “idiotas úteis” desses interesses.

O “interesse oculto” da privatização?

Edmundo Martinho admite que possam existir razões mais obscuras para a exposição e análise a que está a ser sujeito o mandato que exerceu.

“As razões que estão por trás deste processo são pessoas, contra mim – coisa que é possível e admissível, não tem mal nenhum -, ou são razões que não têm nada a ver com o funcionamento da Santa Casa”, declarou o ex-provedor.

“Leva-me a pensar que pode estar aqui por trás o regresso de uma tese antiga de que seria importante que os jogos não fossem explorados pela Santa Casa, mas que fossem colocados à concessão de privados. Devo dizer que acho isso um erro fatal e uma perda monumental para o Estado português”, atirou.

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