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Exoneração na Santa Casa de Lisboa: "Cada vez mais os governos querem deixar a sua marca no primeiro momento"

João Maria Jonet analisa o processo de exoneração na Santa Casa de Lisboa e aborda também a questão da reparações às ex-colónias, numa altura em que o Presidente da República cumpre uma visita oficial a Cabo Verde.

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PS e Iniciativa Liberal querem explicações urgentes no Parlamento da provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e da ministra da Segurança Social. É um pedido que surge depois do Governo ter exonerado a administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, incluindo a provedora Ana Jorge. Para João Maria Jonet "cada vez mais os governos querem deixar a sua marca no primeiro momento, fazer notícia". O comentador da SIC aborda também a questão da reparações às ex-colónias, numa altura em que o Presidente da República cumpre uma visita oficial a Cabo Verde.

João Maria Jonet considera que as explicações do Governo sobre a exoneração da administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não é relevante porque o que interessa é a prática.

“As nomeações são daquelas coisas em que o Governo pode, de facto, mostrar trabalho e criar as condições para aumentar o seu poder. Se isto é a maneira certa de olhar para as nomeações, para cargos públicos, tenho algumas dúvidas, mas é infelizmente como se faz política em Portugal, de todos os lados”.

Na opinião do comentador da SIC, é expectável que situações como a que aconteceu na Santa Casa de Lisboa se repitam e lembra também o caso de Fernando Araújo, que não foi demitido mas apresentou a demissão por clara divergência com a nova ministra da Saúde.

“Acho que estamos aqui em erosão lenta do nosso respeito institucional e respeito pelas nomeações feitas pelos governos anteriores, pelas escolhas feitas pelos governos anteriores (…) Não sou um especialista na Santa Casa, mas em princípio acho que os mandatos são para cumprir e não é porque o Governo muda de cor política que os mandatos devem ser interrompidos. Não é porque o Governo mudou de cor política que as opções mais estratégicas e fundamentais que o país toma devem devem mudar abruptamente, porque isso não cria confiança para quem investe em Portugal, para quem trabalha em Portugal. Temos, de facto, este problema é que de que esta situação é só um exemplo de que cada vez mais os governos querem deixar a sua marca no primeiro, no primeiro momento, fazer notícia”, realça.

Ana Jorge tomou posse como provedora a 2 de maio de 2023. Para este ano estava prevista uma injeção de capital por parte do Estado na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa de cerca de 40 milhões de euros.

Marcelo em Cabo Verde e as reparações às ex-colónias

O Presidente da República inicia hoje uma visita a Cabo Verde para participar nas comemorações dos 50 anos da libertação dos presos do Campo de Concentração do Tarrafal, símbolo da violência da ditadura colonial portuguesa.

Sobre a possibilidade de Marcelo Rebelo de Sousa aproveitar a circunstância para voltar a abordar o tema das reparações às ex-colónias, João Maria Jonet defende que “numa democracia madura, quase tudo pode ser discutido e pode ser discutido”.

Quanto à forma como os partidos, nomeadamente o Chega está a reagir ao tema e às declarações de Marcelo, Jonet é perentório: “Acho importante que se condene partidos que acusam o Presidente da República de traição à pátria por falar dele porque é uma coisa para além de absurda do ponto de vista jurídico, perigosa para a democracia”.

"Ainda há muita memória histórica, muito fresca, de uma coisa que foi traumática para Portugal, que foi a independência das colónias. A bem ou a mal, muita gente ficou marcada pela pela crise do dos retornados, que é das maiores crises. Nós às vezes falamos da maneira como a Alemanha recebeu 1 milhão de refugiados sírios. Portugal também recebeu 1 milhão de refugiados nessa altura. E se dizemos que é traumático para a Alemanha hoje em dia também podíamos pensar nisso agora, 14 anos de de guerra. Obviamente, isto deixa muitos problemas que tornam este tema muito sensível, mas acho importante que se fale dele", frisa o comentador da SIC, esta terça-feira na SIC Notícias.

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