Olhares pelo Mundo

Mosquito de dengue está a adaptar-se às alterações climáticas e a proliferar

O aumento das temperaturas e o prolongamento das monções no Bangladesh devido às alterações climáticas estão a proporcionar condições ideais de reprodução para o mosquito que espalha esta doença viral.

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Desde janeiro, morreram 1.520 pessoas no Bangladesh devido ao pior surto de dengue já registado no país asiático, segundo a direção-geral dos serviços de saúde bengali. As autoridades também relataram um total de 296.665 infeções este ano devido a esta infeção viral transmitida por mosquitos fêmeas da espécie Aedes aegypti.

Kabirul Bashar, entomologista e professor de zoologia na Universidade Jahangirnagar, na capital Dhaka, passou grande parte da sua carreira a estudar mosquitos, na esperança de encontrar formas de prevenir a propagação de doenças transmitidas por este insetos, incluindo dengue.

Mas nos seus 25 anos de investigação, Kabirul Bashar diz nunca tinha visto um surto tão grave como o deste ano.

É a primeira vez que a dengue foi detetada em todos os 64 distritos do país e os hospitais debatem-se com problemas de espaço para os pacientes à medida que a doença se espalha rapidamente no país densamente povoado, com 170 milhões de habitantes.

Enquanto as autoridades lutam para conter e tratar a doença, o professor Bashar decidiu intensificar a sua investigação sobre o mosquito Aedes aegypti, responsável pela proliferação da dengue.

“A temperatura e a humidade estão a mudar os padrões devido às alterações climáticas. Estamos a registar chuvas semelhantes às das monções em meados de outubro, o que é fora do normal. Estas mudanças sazonais nos padrões estão a criar a situação ideal para a reprodução do mosquito Aedes”.

O mosquito Aedes aegypti está a adaptar-se e consegue reproduzir-se em quase qualquer tipo de água, refere o especialista, que descobriu também nas suas investigações que o inseto já não se limita a picar as pessoas durante o dia, também pica durante a noite, alterações e adaptações que se devem às alterações climáticas, considera.

A Organização Mundial da Saúde alertou que o aquecimento global devido às alterações climáticas está a causar a propagação da doença e que este ano se pode bater um novo recorde de casos pelo mundo.

Mosquito da cidade estará a espalhar-se para o campo

Especialistas e ativistas pelo direito à saúde acusam as autoridades do país asiático de negligência. Os casos de dengue na região geralmente começam a aumentar a partir de julho e a diminuir em outubro, coincidindo com a estação chuvosa que incentiva a reprodução dos mosquitos portadores, mas este ano as mortes têm continuado em novembro, apesar da diminuição das temperaturas.

"É apenas um problema de governação. Os responsáveis pelo controlo da epidemia não demonstram nenhuma preocupação, a situação não teria sido tão grave se tivessem sido tomadas as medidas adequadas", acusa o entomologista e presidente da Sociedade Zoológica de Bangladesh, Manjur Ahmed Chowdhury à agência Reuters.

No entanto, o professor Kabirul Bashar, que faz parte do comité nacional anti-dengue do Bangladesh, afirma que será impossível que as autoridades consigam erradicar ou impedir a propagação da dengue sem a participação ativa da população, nomeadamente, na manutenção da limpeza dos locais onde os mosquitos se possam reproduzir.

Kabirul Bashar admite que são necessárias mais investigações para compreender a razão por trás do aumento de casos nas áreas rurais, uma vez que os mosquitos Aedes aegypti se reproduzem principalmente nas cidades.

Maioria dos infetados não tem sintomas

A maioria das pessoas que contrai dengue não apresenta sintomas, portanto o número de casos pode ser muito maior do que os números relatados.

“Este ano vimos sintomas diferentes para a dengue. Alguns pacientes que vieram e que tinham apenas tosse foram diagnosticados com dengue. Isso é alarmante”. disse o médico Janesar Rahat Faysal à Reuters

Não existe tratamento específico para a dengue, que pode causar febre alta de curta duração, dores musculares, erupções cutâneas, grande fadiga e até morte. As vacinas disponíveis têm limitações e o controlo dos mosquitos que transmitem a doença é um desafio que os humanos dificilmente ganham.

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