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Cessar-fogo: "Netanyahu não quer este acordo, mas está a sentir cada vez mais a pressão doméstica e internacional"

Daniel Pinéu, comentador da SIC, analisa os últimos desenvolvimentos do conflito no Médio Oriente e da guerra na Ucrânia.

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O Hamas avisa que se a operação em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, continuar não haverá acordo de cessar-fogo. O grupo diz que a tomada do posto fronteiriço é uma tentativa de sabotar os esforços dos mediadores. Delegações do Hamas e de Israel estão no Egito para retomar as negociações. Ainda assim, o primeiro-ministro israelita insiste que a proposta está muito longe do que pode aceitar. Para Daniel Pinéu, comentador da SIC, “Benjamin Netanyahu claramente não quer este acordo, mas está a sentir cada vez mais a pressão doméstica e dos parceiros internacionais", nomeadamente dos EUA e da União Europeia (UE).

“A questão mais importante para a os negociadores no terreno é perceber até que ponto é que é sincera esta ação de Israel, no sentido de dizer que ainda quer algum acordo (…) a pressão é cada vez maior da parte dos Estados Unidos, chegando ao ponto sem precedentes desde 1975, de suspender alguns carregamentos de armas, digo alguns, porque a tranche total de carregamentos de armas do novo pacote de ajuda foi aprovada e vai continuar a ser entregue”, começa por referir.

Os EUA suspenderam a entrega de um carregamento de bombas na semana passada, depois de Israel não ter respondido às preocupações de Washington sobre a ofensiva em Rafah.

"Suspendemos a entrega de um carregamento de armas na semana passada. É composto por 1.800 bombas de 907 kg e 1.700 bombas de 226 kg", divulgou um dirigente da administração norte-americana, sob a condição de não ser identificado.


Assim, no entender de Daniel Pinéu, é possível que Israel esteja a sentir-se forçado ou a aceitar um acordo, mas não necessariamente este acordo. “Estas condições que ainda têm de ser negociadas em pormenor e que isso efetivamente abra caminho ao cessar-fogo”.


“Benjamin Netanyahu claramente não quer este acordo, mas obviamente que está a sentir cada vez mais a pressão doméstica. Aliás, basta ver as os protestos que temos tido em Telavive, em particular das famílias dos reféns e do movimento que se opõe a ele, mas também do ponto de vista internacional, como estamos a ver os Estados Unidos, mas também da UE, e vários outros parceiros, e até a pressão do Tribunal Penal Internacional e da sua potencial ação de mandatos de captura contra oficiais israelitas, ele incluso e, portanto, a pressão vai aumentando”, explica.

Guerra na Ucrânia


Sobre a guerra na Ucrânia e o regresso da ofensiva russa à capital, Kiev, o comentador da SIC sublinha que “o mais importante é a estratégia que está a ser a levada a cabo pela Rússia de atacar cada vez mais a infraestrutura energética da Ucrânia”, seja na capital como noutras cidades.

“A ideia disto é que, independentemente do que aconteça depois, com uma maior capacidade defensiva da Ucrânia, a Ucrânia terá muita dificuldade em voltar a recuperar em tempo real a sua grelha energética, o que não é tão grave como foi no inverno passado, mas a destruição é muito mais genérica e tem efeitos económicos”.

Daniel Pinéu destaca ainda a notícia de um plano falhado da Rússia para assassinar o Presidente ucraniano, que demonstram os objetivos do Kremlin que acredita que a resistência ucraniana chegaria ao fim sem Volodymyr Zelensky.

Para o comentador da SIC, este plano demonstra que o Kremlin continua comprometido com os objetivos da guerra contra a Ucrânia, sobretudo depois da tomada de posse por mais um mandato, tanto mais que Zelensky é alguém que não só tem lutado contra a Rússia mas tem também dado passos muito importantes para a adesão da Ucrânia à UE, o que a longo prazo frustra a ideia de Moscovo não deixar a Ucrânia passar da esfera de influência russa para a esfera da influência ocidental.

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