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Análise

Sánchez "não se encolheu" e fez um "contra-ataque com palavras fortes"

Rui Cardoso analisa a decisão e as declarações de Sánchez, bem como as possíveis reações dos partidos de direita. O chefe de Governo de Madrid esteve a refletir durante cinco dias por causa de uma investigação à mulher, mas decidiu continuar à frente do Executivo.

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Pedro Sánchez anunciou esta segunda-feira que continuará à frente do Governo espanhol, numa declaração em Madrid, no Palácio da Moncloa, sede do Executivo. "Decidi continuar. E continuar com mais força, se é possível, à frente do Governo de Espanha", afirmou. O jornalista Rui Cardoso analisa a decisão e as declarações de Sánchez, bem como as possíveis reações dos partidos de direita.

“Numa situação em que a saída mais fácil seria demitir-se e passar a pasta, não só não se encolheu como contra-atacou e fez esse contra-ataque com palavras fortes, centradas nos valores centrais da convivência democrática, do respeito de jogar limpo, de não confundir o debate político com ataques pessoais”, começa por referir.

Perante isto, Rui Cardoso considera que o trabalho do PP e do Vox não fica facilitado, tanto mais que o Ministério Público pronunciou-se no sentido do arquivamento das acusações contra a mulher de Sánchez e também o próprio site reconheceu que a base da sua acusação, a base da sua queixa, que entenderam transmitir às autoridades judiciais eram apenas artigos publicados em jornais.

A abertura do "inquérito preliminar" contra a mulher de Sánchez surgiu na sequência de uma queixa de uma organização conotada com a extrema-direita, baseada em alegações e artigos publicados em páginas na Internet e meios de comunicação digitais.

“O Vox é vítima do seu próprio sucesso, ou seja, quando chega em alianças em geringonças com o PP, a uma série de parlamentos e governos regionais, de certa maneira prova o fruto proibido (…) Começa a revelar uma fase, que porventura alguns eleitores mais moderados não reconheceriam, que tem a ver com proibição de livro, tentativa de proibição de livros, tentativa de proibição de filmes, de censuras, de coisas que são evidentemente absolutamente inaceitáveis aí em democracia e que lhe custaram um recuo eleitoral importante na última consulta popular”, explica Rui Cardoso.

Para o jornalista, a situação política em Espanha já há muito tempo que “é bastante mais crispada do que do que em Portugal e há ali recalcamentos, o processo de transição para a democracia em Espanha é diferente do português”.

A situação política em Espanha continua muito complexa e Rui Cardoso aponta uma questão central.

“Em março foi apontada no Parlamento espanhol uma lei da amnistia, beneficiando os autonomistas condenados pela justiça era uma das condições para que todos os autonomistas, nomeadamente os catalães que estavam no exílio apoiassem Sánchez e Governo de Sánchez. Esse diploma irá ser votado em maio e vamos ver o que é que acontece nessa altura".

"Também é verdade que estamos a pagar esta crispação da vida política espanhola, que também remonta ao referendo sobre a independência na Catalunha e quando efetivamente, por culpa do rei e por culpa do líder do PP, Mariano Rajoy, em vez de enfrentar com serenidade a tentativa catalã de fazer um referendo que não tinha, do ponto de vista jurídico, do ponto de vista político, não tinha pés nem cabeça (…) tentou-se resolver aquilo que é um problema político através da via judicial e isso, como muito bem sabemos em Portugal, é sempre a receita para o desastre. É sempre a receita para asneira, conclui o jornalista, em entrevista esta segunda-feira na SIC Notícias.

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