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Análise

Sánchez pretendeu "marcar a agenda" e "obrigar a sociedade a refletir"

Marcos Farias Ferreira, professor de Relações Internacionais, analisa a declaração de Pedro Sánchez, que esta segunda-feira anunciou que continuará à frente do Governo de Espanha.

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Pedro Sánchez decide continuar à frente do Executivo espanhol. O chefe de Governo de Madrid esteve a refletir durante cinco dias por causa de uma investigação à mulher, mas diz que as demonstrações de apoio dos últimos dias o motivaram a ficar. Para Marcos Farias Ferreira, professor de Relações Internacionais, o objetivo de fundo de Pedro Sánchez "foi o de obrigar a sociedade a refletir, a mobilizar-se, certamente trazer as pessoas para a rua, como aconteceu durante o fim de semana".

"É preciso reconhecer que é seguramente o político espanhol das últimas 4, 5 décadas com maior capacidade de ler a sociedade espanhola, ler a política, de ler as tendências mais profundas que influenciam a política e a sociedade espanholas. Acho que estas explicações em si mesmas são a continuação daquilo que tem sido a sua postura na política espanhola, é claramente a tentativa de marcar a agenda. Julgo que a carreira política de Sanches tem sido marcada por isto, esta capacidade de ler a política e a sociedade e de criar momentos de rutura fundamentais, obviamente em benefício do seu projeto político em benefício do seu partido", defende Marcos Farias Ferreira.

O professor de Relações Internacionais considera que Pedro Sánchez entendeu que este momento em que um tribunal de Madrid confirmou a abertura de um "inquérito preliminar" por alegado tráfico de influências e corrupção da sua mulher, Begoña Gomez, "era o momento para criar mais mais uma rutura, mobilizando a população, mobilizando a sociedade em nome de uma regeneração, como ele falou, afastando a pressão que no último ano, desde que se realizaram eleições autónomas, ele tinha tinha tinha sentido".

Questionado sobre o facto do chefe do Governo espanhol ter realmente razão ou se estar a vitimizar, como acusam os seus opositores, Marcos Farias Ferreira considera que Pedro Sánchez está certo ao apontar para a degradação da vida política, mas sublinha que o líder do Executivo de Madrid não tem sido o único alvo.

"São conhecidos os casos nos últimos anos de processos judiciais que não levam a nada contra a esquerda espanhola, contra os independentistas da Catalunha, por exemplo. E nesses momentos, o presidente do Governo olhou para o lado, o Partido Socialista também olhou para o lado. Também é verdade que não se resume aos últimos 10 anos, provavelmente tem o seu início há 20 anos com a questão dos atentados de de 11 de Março, em que o Governo de então, o Governo do PP, procurou manipular a informação para defender uma tese de que teria sido um atentado da ETA", lembra o professor de Relações Internacionais.

Na opinião de Marcos Faria Ferreira, as últimas campanhas foram muito personalizadas, "um ataque pessoal a Pedro Sánchez, no sentido que é autoritário, está agarrado ao poder, de que é uma personalidade fria, calculista. Estes últimos 5 dias foram também a tentativa de reverter essa imagem, de o mostrar como alguém humano, que se preocupa com a família (...) Um objetivo de fundo foi o de obrigar a sociedade a refletir, a mobilizar-se, certamente trazer as pessoas para a rua, como aconteceu durante o fim de semana".

A abertura do "inquérito preliminar" contra a mulher de Sánchez surgiu na sequência de uma queixa de uma organização conotada com a extrema-direita, baseada em alegações e artigos publicados em páginas na Internet e meios de comunicação digitais. O Ministério Público pediu no dia seguinte o arquivamento da queixa, por considerar não haver indícios de delito que justifiquem a abertura de um procedimento penal.

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