Mineiros e estudantes em palco para contar a história de um crime ambiental

Mineiros e estudantes em palco para contar a história de um crime ambiental

Desativadas em 1970, foram depositadas nas minas de carvão de São Pedro da Cova toneladas de resíduos tóxicos que ainda não foram totalmente removidos. Esta história é contada através do teatro, no âmbito do projeto “A Mina”.

Foi uma reportagem da Antena 1 intitulada "Vizinhos Perigosos” sobre um crime ambiental cometido em São Pedro da Cova, que chamou a atenção do ator e encenador, André Amálio.

Ele ainda não conhecia a história das minas de carvão que durante quase dois séculos fora o principal sustento das famílias da vila. Desativadas em 1970, foram depositadas nessas minas, em 2001, toneladas de resíduos tóxicos da Siderurgia Nacional que ainda hoje não foram totalmente removidos.

“Fiquei profundamente chocado com aquela situação e com lentidão com que se estava a resolver o processo de remoção dos resíduos”, conta André Amálio.

Decidiu então começar a investigar a história daquela freguesia, bem como o passado de resistência da população no tempo da exploração mineira. “Pensei que seria interessante desenvolver um projeto com aquela população sobre as memórias do passado e as lutas do presente para resolução daquele crime ambiental.”

E foi assim que nasceu “A Mina”, um projeto em que, através do teatro, em particular do teatro documental, se aborda toda aquela problemática e se encontram “novas formas de empoderar aquela população, dando visibilidade ao seu passado recente e aos novos desafios da atualidade”, diz o encenador.

Do passado mineiro à defesa do ambiente

André Amálio e Tereza Havlíčková partiram do trabalho com a comunidade, num diálogo intergeracional sobre o passado mineiro e os atuais problemas ambientais.

No projeto participam antigos mineiros a viver em condições socioeconómicas adversas e adolescentes com dificuldades sociais e económicas.

A atividade iniciou-se em abril de 2021, com a realização de formações, workshops e recolha de testemunhos, envolvendo cerca de cem pessoas.

Seguiram-se os ensaios diários no Auditório da Câmara de Gondomar, no Centro Social do Sotelo, no Auditório da Escola Profissional de Gondomar e, na parte final, no Teatro Carlos Alberto.

Uma intensa atividade que teve o seu ponto alto no passado dia 15 de junho, data da estreia de “A MINA” no TeCA - Teatro Carlos Alberto. Em palco, 22 pessoas fizeram cinco apresentações do espetáculo, sempre com a casa cheia. “As reações foram muito boas e calorosas. Muitas pessoas que não conheciam a história de São Pedro da Cova, muitos espectadores ficaram tocados com os testemunhos daquelas pessoas.”

Para o ano, estão já previstas novas apresentações, primeiro em Lisboa, na Culturgest, e depois no Auditório da Câmara Municipal de Gondomar.

Na perspetiva de André Amálio, o teatro pode contribuir para prevenir e ajudar a combater os crimes ambientais. No caso concreto de São Pedro da Cova, “o público pode conhecer como aconteceu este crime ambiental e como ele tem afetado as vidas de pessoas reais.”

Amálio diz acreditar “profundamente” que este tipo de teatro mostra “como estes casos não podem existir mais” e “como se podem identificar e que maneira se deve agir para tentar que se resolvam o mais depressa possível.”

Os textos são construídos durante os ensaios, através das histórias que as pessoas contam sobre as suas experiências reais.

O espetáculo constrói-se desta dinâmica mas com base num intenso trabalho de investigação anterior em que foram recolhidas “muitas entrevistas, muitas histórias de vida” e foram analisados “documentos, filmes, fotos de família. Todos este elementos fazem parte da criação da peça”, diz André Amálio.

“A Mina” tem os apoios da Fundação Gulbenkian, Fundação La Caixa, DGARTES - MC, Teatro Nacional São João, Culturgest, CM Gondomar, JF Fanzeres e São Pedro da Cova.