Bowing, ou a arte ao serviço dos imigrantes

Bowing, ou a arte ao serviço dos imigrantes
João Mariano

Este é o objetivo do projeto Bowing dirigido aos imigrantes que vivem no concelho de Odemira, 15 mil pessoas oriundas dos países de leste e do oriente.

Quando a jornada de trabalho acaba, eles reencontram-se num espaço onde podem exprimir através da arte os seus sonhos e também os seus problemas. Ao mesmo tempo, aprendem a língua portuguesa e integram-se social e culturalmente no país.

Vieram de longe à procura de uma vida melhor. No Alentejo, encontraram oportunidades de trabalho e de recomeçar uma nova vida. Os adultos, na sua maioria, ocupam-se na agricultura intensiva. As crianças, frequentam as escolas do concelho onde aprendem a falar português.

É a eles que se dirige o trabalho artístico que utiliza a dança, a música e o vídeo como linguagens centrais, visando “dignificar, valorizar e descobrir elementos intrínsecos às culturas estrangeiras com o objetivo de criar um terreno de partilha e de fusão de saberes, sensibilidades, e aspetos identitários com a cultura portuguesa”, explicam as responsáveis do projeto, Inês Melo Matilde Real e Madalena Victorino.

Uma centena de pessoas participa atualmente nesta iniciativa que pretende “construir um quotidiano que tenha a qualidade de os fazer sentir confortáveis na relação com pessoas portuguesas, os ajude a aprender a língua, os estimule criativamente, mas sobretudo os valorize enquanto pessoas individuais vindas de culturas ancestrais muito ricas”, dizem as promotoras, convictas de que “a dança, a música, a palavra, são ferramentas para conquistar essas zonas de bem estar e de auto-construção num país desconhecido para eles e muitas vezes hostil.”

Laboratórios Artísticos onde se cruzam desconhecidos

Com os financiamentos da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação "la Caixa", Câmara Municipal de Odemira e Cooperativa Lavrar o Mar, Bowing tem a direção artística de Madalena Victorino. As sessões desenvolvem-se em laboratórios artísticos regulares e criados por diversos artistas, onde se estabelece a aproximação e o cruzamento entre pessoas desconhecidas.

Desde o seu início, em 2021, já participaram neste projeto 265 pessoas.

O trabalho passa por um processo de co-criação de um espetáculo ao longo do ano entre um grupo nuclear nas áreas da dança, da música e da palavra e um grupo de artistas profissionais.

A primeira fase do projeto desenvolve-se de janeiro a julho com laboratórios artísticos semanais onde participam seis grupos diferentes: cinco, de crianças e jovens e um, de adultos.

Nesse período, a equipa trabalha com crianças da Escola de Odemira (Básica, Secundária e Profissional) realizando atividades durante o horário escolar inseridas nas disciplinas de Educação Visual, Cidadania e Português como Língua Não Materna (PLNM).

O grupo mais jovem, inserido no Agrupamento de Escolas de São Teotónio, participa no projeto desde o ano passado em horário extra-curricular. Os adultos encontram-se semanalmente no Mercado de Aljezur, em horário pós-laboral.

De setembro a novembro, desenvolve-se a segunda fase do projeto Bowing para a criação de um espetáculo a apresentar nos dias 11,12 e 13 de novembro em Odemira. Neste trabalho participam artistas profissionais conjuntamente com todos os grupos envolvidos.

As atividades artísticas transportam-se para a praia com o programa Summer Bowing. Nas últimas sessões programadas para 18,19 e 20 de julho, a arquiteta Clara Queiroz Lopes vai construir uma cidade de areia com jovens migrantes, na praia da Amália.