30% dos toxicodependentes inscritos no programa de metadona são estrangeiros. O número de utentes em Lisboa é cada vez maior, mas o horário das carrinhas de apoio será reduzido a metade por falta de verbas.
Aos 60 anos e já com 12 situações criticas de overdose, Ricardo prepara-se para mais um medicamento diário contra o principal inimigo.
Há 14 anos que esta carrinha junto à Praça de Espanha, em Lisboa, é como se fosse a segunda casa. Foram 34 anos de consumo.
Ricardo já sabe que a partir da próxima semana, 9 de abril, o horário de funcionamento da carrinha será reduzido a metade por falta de verbas.
"Não é possível continuar. Quando este programa foi assinado em 2006, com o orçamento que temos atualmente, o ordenado mínimo era 476 euros. Neste momento, o ordenado mínimo são 820", adianta Elsa Belo, diretora técnica da Ares do Pinhal.
Há 18 anos que o orçamento não é atualizado.
As duas únicas carrinhas de metadona das zonas oriental e ocidental de Lisboa, ambas disponíveis 12 horas por dia, vêm o horário reduzido a metade.
Maria, limpa da heroína, há 14 anos. Teme um retrocesso na recuperação. "Para mim acho que vai acontecer muita recaída. Não tendo a metadona, vai ter de arranjar uma substituição, que vai ser a heroína (...)", admite.
A metadona fornecida pela ARS chega a 1.300 utentes todos os dias. 30% já são estrangeiros.
O programa de manutenção de metadona é financiado pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências. 20% das verbas são da Camara de Lisboa.