Saúde e Bem-estar

Uma análise ao sangue pode detetar a gravidade da depressão em adolescentes

Uma das conclusões de uma série de estudos em que cientistas conseguiram identificar genes, moléculas, regiões cerebrais e características cognitivas específicas que estão associadas à depressão. As descobertas ajudarão a ter indicadores fiáveis para diagnosticar a doença mental mais comum em todo o mundo.

Uma análise ao sangue pode detetar a gravidade da depressão em adolescentes
Carol Yepes

Em diversos estudos recentes que analisaram o cérebro de crianças adolescentes com depressão, os cientistas conseguiram identificar genes, moléculas, regiões cerebrais e características cognitivas específicas que estão associadas à doença. As descobertas foram apresentadas no encontro anual da Sociedade de Neurociência norte-americana, Neuroscience 2023.

A depressão é a doença mental mais comum em todo o mundo e os adolescentes são especialmente vulneráveis a desenvolvê-la. É uma doença complexa, que inclui muitas componentes genéticas e fatores de risco ambientais diferentes, o que a torna difícil de diagnosticar e tratar.

Em setembro deste ano, um estudo revelou que o número de adolescentes em Portugal com sintomas depressivos aumentou para 45% no último ano letivo (2022-2023). A conclusão resulta da investigação feita pelo programa de promoção da saúde mental e prevenção de comportamentos suicidários em meio escolar "Mais Contigo".

Segundo a OMS, a nível mundial, 5% dos adultos sofrem de depressão.

As mais recentes descobertas sobre depressão nos adolescentes

Os cientistas trabalham incessantemente para compreender os mecanismos exatos no cérebro que aumentam o risco ou promovem o desenvolvimento de depressão, na esperança de desenvolver uma forma de deteção mais precoce e opções de tratamento mais eficazes.

Na conferência anual da Sociedade de Neurociência norte-americana (que reúne cerca de 35.000 cientistas e médicos que estudam o cérebro e o sistema nervoso), Neuroscience 2023, que se realizou em meados de novembro em Washington, foram apresentados os resultados das mais recentes investigações, entre as quais:

  • Adolescentes diagnosticados com depressão têm assinaturas epigenéticas únicas em amostras de sangue (Cecilia Flores, Universidade McGill).
  • As variantes genéticas parecem ter relação com os riscos de depressão, conforme indicado pelas alterações na estrutura cerebral dos adolescentes, tanto de forma específica ao sexo como não. (Yu Chen, Universidade Yale)
  • Na depressão, as regiões distribuídas do cérebro envolvidas no processamento da atenção e das emoções (rede límbico-cortical) aumentaram o tamanho nos adolescentes – um alvo biológico potencial para intervenção precoce. (Sanju Koirala, Universidade de Minnesota)
  • Sintomas depressivos mais graves têm um efeito prejudicial mais forte sobre o raciocínio em adultos mais velhos, que foram estudados durante vários anos (Denise Park, Universidade de Texas em Dallas)

Marcadores no sangue em adolescentes que apresentam sintomas mais graves de depressão

Adolescentes com depressão apresentam níveis mais elevados de certas moléculas no sangue do que aqueles sem a doença - os cientistas encontraram nove marcadores no sangue que estão presentes em adolescentes que apresentam sintomas mais graves de depressão meses depois. A descoberta pode ajudar a identificar os adolescentes e as crianças que são mais suscetíveis à depressão e levar a intervenções mais precoces.

O estudo foi realizado na Universidade McGill, no Canadá. Cecilia Flores e o seus colegas analisaram amostras de sangue de 62 adolescentes com idades entre os 13 e os 18 nos Estados Unidos, incluindo 34 com diagnóstico de depressão.

Depois de ajustar variáveis como idade, sexo e estatuto socioeconómico, a equipa descobriu que os adolescentes com depressão exibiam níveis significativamente mais elevados de nove moléculas de microRNA no sangue do que os adolescentes que não tinham depressão.

Essas moléculas específicas de microRNA, que são exclusivas da adolescência, desempenham um papel essencial no desenvolvimento do cérebro e nos processos cognitivos, segundo Cecilia Flores, citada pela New Scientist.

O estudo mostrou que níveis elevados desses marcadores no sangue estavam associados a sintomas depressivos mais graves nove meses após a recolha inicial das amostras de sangue.

“Esses marcadores podem também ajudar-nos a saber o que está a acontecer no cérebro [durante a depressão na adolescência]”, diz a autora.

Volume da massa cinzenta alterado em crianças com depressão

No estudo conduzido por Yu Chen, da Universidade Yale) foram analisados 6.186 voluntários, entre os quais 2.774 meninas de 9 a 10 anos, no âmbito do projeto Adolescent Brain Cognition Development (ABCD), desenvolvido nos Estados Unidos, para saber como os riscos genéticos se manifestam em jovens com depressão.

Para cada participante, foram avaliados os sintomas de depressão e computorizados os riscos genéticos (PRS) e os volumes da massa cinzenta (GMV).

Em todos os indivíduos, mais sintomas depressivos e maior PRS foram associados a menores volumes de massa cinzenta nas várias regiões do cérebro, incluindo regiões frontal, parietal, temporal, insular e subcortical.

“Estas descobertas sugerem que, no que diz respeito à depressão em crianças, existem marcadores estruturais cerebrais partilhados pelos sintomas de depressão e riscos genéticos”, segundo os autores.

Tamanho da rede límbico-cortical está relacionada com a depressão

No estudo de Sanju Koirala, da Universidade de Minnesota, foram analisados 5.530 adolescentes, também no âmbito do projeto Adolescent Brain Cognition Development (ABCD).

Os investigadores descobriram um aumento no tamanho da rede envolvida no processamento da atenção e de emoções (rede límbico-cortical) em participantes com mais sintomas depressivos.

Para os cientistas, esta descoberta revela um alvo neural promissor para identificar e tratar a depressão em jovens.

Relação entre depressão e desempenho cognitivo

No estudo de Denise Park, da Universidade de Texas em Dallas, participaram 264 pessoas com idades entre 20 e 89 anos que completaram questionários durante uma média de quatro anos.

Os cientistas investigaram a relação entre depressão e desempenho cognitivo, prevendo que a depressão pioraria com o declínio cognitivo associado à idade.

A análise mostrou que os sintomas depressivos iniciais atingiram o pico na idade adulta jovem, diminuíram na meia-idade e regressaram na idade mais avançada, embora num grau menor.

Descobriram também que, em adultos mais velhos, os sintomas depressivos mais elevados tiveram um efeito mais prejudicial sobre o raciocínio, o que fornece provas entre depressão e declínio cognitivo.

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