"Em Angola, no meu país, os médicos disseram-me que tinha de escolher uma delas e que tinha de estar preparada porque podiam não sobreviver", conta Vitorina Silva
"Se não fossem separadas, podiam viver assim. A questão que se coloca é do ponto de vista ético. Se uma delas morresse, a outra morreria num prazo de horas", explica Rui Alves, diretor de cirurgia pediátrica do Hospital D. Estefânia .
Apesar da raridade da malformação, o risco de mortalidade sempre foi reduzido. As gémeas não partilhavam órgãos nobres: nasceram com dois corações, dois cérebros, quatro pulmões, com os grandes vasos e com dois intestinos delgados.
O grande desafio para os médicos sempre foi o que fazer com o intestino grosso e com o ânus, porque só havia um. A decisão foi tomada apenas durante a cirurgia:
A Bibiana ficou com o intestino grosso. A Domingas terá de viver, provavelmente para sempre, com um saco de ileostomia, um saco que recolhe fezes. As gémeas também partilhavam o fígado. Foi separado na operação e cada uma ficou com uma parte.
No aparelho urinário, nasceram com dois rins cada uma. No entanto, os ureteres, os dois tubos que ligam os rins à bexiga, estavam trocados. Ou seja, a ligação estava feita ao contrário. Um dos ureteres da Bibiana estava ligado à bexiga da Domingas e um das Domingas estava ligado à bexiga da Bibiana. Durante a cirurgia foi preciso colocá-los na gémea respetiva.
Uma operação complexa que não era feita em Portugal há 24 anos. Para os médicos, uma oportunidade única de desenvolvimento científico.
Foi a primeira de muitas cirurgias que Bibiana e Domingas vão ter de fazer ao longo da vida.
A mãe realizou o sonho, o de ter as filhas finalmente separadas.
SARA TAINHA - Jornalista stainha@sic.impresa.pt