Grande Reportagem SIC

"Minha Irmã": gémeas siamesas viveram como uma até serem separadas em Portugal

Durante quase quatro anos, duas crianças viveram como uma só. Gémeas siamesas angolanas foram separadas no Hospital D. Estefânia. Vieram para Lisboa ao abrigo de um acordo entre os dois países. A SIC acompanhou em exclusivo a complexa cirurgia que não era feita em Portugal há 24 anos e que mudou a vida destas irmãs.

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Vitorina Silva veio para Lisboa há um ano à procura de uma resposta da ciência. Em Angola, não havia condições para separar as filhas - gémeas siamesas unidas pela bacia. Um dos tipos de siameses mais raros do mundo, representam apenas 7% dos casos.
"Em Angola, no meu país, os médicos disseram-me que tinha de escolher uma delas e que tinha de estar preparada porque podiam não sobreviver", conta Vitorina Silva
Durante quase quatro anos, Bibiana e Domingas, viveram como uma só. Nunca souberam o que é vontade própria. Vieram para Lisboa para serem operadas, ao abrigo de um acordo entre os ministérios da saúde português e angolano. Foram oito meses de preparação para a cirurgia de separação, que aconteceu em julho deste ano.

"Se não fossem separadas, podiam viver assim. A questão que se coloca é do ponto de vista ético. Se uma delas morresse, a outra morreria num prazo de horas", explica Rui Alves, diretor de cirurgia pediátrica do Hospital D. Estefânia .

Apesar da raridade da malformação, o risco de mortalidade sempre foi reduzido. As gémeas não partilhavam órgãos nobres: nasceram com dois corações, dois cérebros, quatro pulmões, com os grandes vasos e com dois intestinos delgados.

O grande desafio para os médicos sempre foi o que fazer com o intestino grosso e com o ânus, porque só havia um. A decisão foi tomada apenas durante a cirurgia:

A Bibiana ficou com o intestino grosso. A Domingas terá de viver, provavelmente para sempre, com um saco de ileostomia, um saco que recolhe fezes. As gémeas também partilhavam o fígado. Foi separado na operação e cada uma ficou com uma parte.

No aparelho urinário, nasceram com dois rins cada uma. No entanto, os ureteres, os dois tubos que ligam os rins à bexiga, estavam trocados. Ou seja, a ligação estava feita ao contrário. Um dos ureteres da Bibiana estava ligado à bexiga da Domingas e um das Domingas estava ligado à bexiga da Bibiana. Durante a cirurgia foi preciso colocá-los na gémea respetiva.

Uma operação complexa que não era feita em Portugal há 24 anos. Para os médicos, uma oportunidade única de desenvolvimento científico.

Foi a primeira de muitas cirurgias que Bibiana e Domingas vão ter de fazer ao longo da vida.

A mãe realizou o sonho, o de ter as filhas finalmente separadas.

FICHA TÉCNICA

SARA TAINHA - Jornalista stainha@sic.impresa.pt
ANDRÉ MIGUEL - Repórter de Imagem
RUI BERTON - Edição de Imagem
PEDRO MORAIS - Grafismo
DIANA MATIAS - Produção
GONÇALO CARVOEIRAS - Colorista
OCTAVIANO RODRIGUES - Pós-produção áudio
MARTA BRITO DOS REIS; RICARDO COSTA - Direção
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