Voltou à ordem do dia o caso das gémeas brasileiras que, soube-se em novembro do ano passado, receberam um tratamento milionário em Portugal. À data dos factos, recaíram sobre Marcelo Rebelo de Sousa alegadas suspeitas de favorecimento que desde logo o chefe de Estado negou. Mais tarde ficou, porém, clara a intervenção do filho Nuno, o que deixou Marcelo claramente desconfortável e que levou, sabe-se agora, ao corte de relações.
A revelação foi feita pelo próprio num jantar com jornalistas, promovido pela Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal. “Foi um período chato, (…) chato em relação a um filho [e] vai ser chato enquanto foi preciso ser chato e o tempo que for necessário. E se ele [Nuno] continuar com ideias para ‘afrentex’ sera duradouramete chato, mas isso é um preço que já vinha de trás”.
“Ele [o Nuno] fazer-se de convidado para um sítio onde estavam políticos brasileiros e eu a dizer que não se ele fosse. Se aceitasse que ele fosse ficariam convencidos de que a melhor maneira de chegar ao Presidente da República era através do filho do Presidente da República e o filho ficaria convencido de que a melhor maneira de chegar a eles era através de mim, e era insuportável alguém ousar impingir-se para um jantar por causa disso”, desabafou Marcelo.
E o polémico caso das gémas, prosseguiu Marcelo, como que por “providência divina” veio “apenas confirmar o acerto da minha opção - de cortar com o filho”, apesar de o próprio chefe de Estado ter sentido algum impacto indireto com o caso que o desgastou, embora “não politicamente”.
“O que pesou nas sondagens não foram as gémeas foi a penalização do PS [devido à decisão do Presidente de dissolver a Assembleia da República]. Eu que ando na rua todos os dias, [as pessoas] não me tratavam mal, mas passaram da paixão para um silencio respeitoso e consternado, para não dizer desiludido. (…) Depois as sondagens começaram a subir e depois aconteceu aqui um fenómeno quando desaparece outro referencial da vida portuguesa fica um e as pessoas agarram-se a esse e a sondagem recuperou. As gémeas foram um fenómeno adicional que desgastou pessoalmente mas não desgastou politicamente”.
E isso “é imperdoável”, assumiu Marcelo, acrescentando que o filho Nuno "sabe que tenho um cargo público e político e que pago por isso. Há coisas piores na vida. [Agora] se ele vai ser responsabilizado? Não sei nem me interessa, tem 51 anos. Se fosse o meu neto mais velho, sentia-me responsável e sofria, [agora] ele tem 51 anos é maior e vacinado".
Quanto à Comissão Parlamentar de Inquérito, o Presidente da República não altera uma palavra ao que tem dito: “Veremos depois de 9 de junho”.
Ao final da tarde, em declarações aos jornalistas, confrontado com este corte de relações com o filho Nuno, Marcelo lembrou que já explicou esta questão “duas vezes, pelo menos”.
O Presidente Marcelo repetiu, conforme disse “no dia 24 de dezembro quando me perguntaram o que é que justificava de inaceitável o eventual comportamento do meu filho Nuno a minha reação e eu expliquei ter tomado iniciativas que devia ter comunicado em devido tempo, previamente”.