O Ministério Público (MP) está a investigar a morte de uma senhora na ambulância que a transportava até casa, depois de ter tido alta do Hospital de São Francisco Xavier. O hospital abriu um inquérito interno.
Rafaela tem sido obrigada a regressar ao hospital onde trabalhou durante anos.
Há uma semana a avó, doente de Alzheimer com 87 anos, precisou de ser assistida no hospital de São Francisco Xavier.
“Era uma pessoa acamada há dois anos, aos nossos cuidados. Estava debilitada e começou com febre durante a noite e a vomitar. Contactei a Saúde24 que reencaminhou para o CODU, e enviou uma ambulância. Os bombeiros disseram logo que tinha de ir para o hospital, pois havia qualquer coisa que não está bem”, conta a neta da doente, Rafaela Pereira.
Hercília Novo recebeu pulseira laranja, fez análises e medicação, e ficou em vigilância durante a noite.
“Às três da tarde, vou ao hospital e médica informou-me que a avó teve alta. Disse que era uma doente que nem devia estar ali, pois não tinha critérios e estava a tirar um lugar a doentes que precisavam mais. Questionei se a minha avo se tinha alimentado, ela diz que sim. mas o enfermeiro diz que não”, acrescenta.
A família foi informada de que a utente seria transportada de ambulância até casa, que fica a cerca de cinco quilómetros do hospital.
Saiu do hospital às seis da tarde e chegou ao destino perto das oito da noite.
“Tocaram à campainha e o bombeiro pediu para descermos para vermos se era o estado normal da minha avó. Descemos e deparamo-nos com um cenário macabro. A minha avó deitada sobre um doente lucido, gelada, roxa, sem qualquer tipo de reação. A minha avó estava já em pedra”, explica a neta.
O óbito foi declarado 20 minutos depois.na ambulância, à porta de casa.
O INEM foi chamado ao local e o corpo foi depois transportado de uma viatura para a outra na presença da PSP.
Versões contraditórias sobre estado da doente
"As versões eram contraditórias. O bombeiro mais velho acusava o mais novo, o mais novo dizia que a minha avo já não tinha saído bem do hospital, mas que avisou e que disseram ‘é doente com alta, é para ir para cas"’. Agora, morrer num hospital ou em ambulância sem ninguém? Não sei como é que a minha avo morreu", lamenta a neta.
A família recebeu condolências do Hospital S. Francisco Xavier e a garantia de uma auditoria interna.
Num e-mail assinado pelo diretor do serviço de urgência, o médico pediu acompanhamento psicológico para a família, tendo a primeira consulta tido lugar dois meses depois.
“Não sei o que se passou naquela ambulância. Ninguém me responde como ela saiu do hospital, se estava viva ou morta. Dizem-nos que estão a averiguar, mas passaram três meses”, acrescenta.
S. Francisco Xavier desconhecia o caso. MP abre inquérito
À SIC, o Hospital S. Francisco Xavier diz que só agora o novo conselho de administração tomou conhecimento do caso.
O hospital diz que, da análise prévia do processo, não há qualquer situação inadequada do ponto de vista da atuação clínica e que, no período em que a utente esteve no hospital, não há registo de qualquer situação anómala.
O MP já confirmou que vai ser aberto um inquérito e que está a investigar o caso, por se tratar de uma morte na via pública.
Até agora apenas a filha da utente foi ouvida pela PSP, onde considera “que a avó foi maltratada”.