Além Fronteiras

Rui Vitória e o trânsito no Egito: "Se fosse em Portugal havia chapada, murro e pontapé"

Rui Vitória é selecionador do Egito e na sua capital, o Cairo, já assistiu a cenas no trânsito "de tirar a respiração". Viver no Egito é uma aventura, mas muito rica culturalmente. O ex-treinador do Benfica é o convidado do Além Fronteiras desta semana.

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Desta vez, aterramos no Cairo, capital do Egito. É lá que Rui Vitória vive “há um ano e pouco” para treinar a seleção egípcia. Os sustos no trânsito, “de tirar a respiração”, a experiência de acompanhar a equipa no jejum do Ramadão e a ligação a Salah, “um craque dentro e fora do campo”, são apenas algumas das revelações do antigo técnico do Benfica.

“Em Portugal, ninguém resistira a sair do carro”

A forma como se conduz no Egito foi um dos maiores choques culturais para o treinador, que tem uma certeza: “Situações que já encontrei aqui no Egito, se fossem em Portugal, estou convencido que havia chapada, murro e pontapé permanentemente”.

“Em Portugal, ninguém resistira a sair do carro”, brinca Rui Vitória, lembrando já ter visto “uma mota onde seguiam sete pessoas - o pai, a mãe e cinco miúdos” e “um indivíduo a conduzir uma bicicleta com um tabuleiro enorme com pães” a circular entre os carros.

Tudo isto levou o treinador português, de 53 anos, a uma conclusão: “O mais importante num carro é a buzina, só se ouve buzinadelas no trânsito. Apitam porque estão à direita, à esquerda, atrás”.

E com tantas “coisas terríveis, de tirar a respiração”, que já testemunhou, ainda não encontrou vontade de se colocar ao volante.

“Nunca conduzi aqui no Cairo, mas também não tenho muita vontade”, confessa o selecionador do Egito, sublinhando, no entanto, que o País é muito mais do que “pirâmides”.

“A religião regula tudo”

Rui Vitória reconhece notar muitas diferenças em treinar uma seleção, ainda para mais em África.

“Tenho mais tempo para amadurecer, pensar sobre todas as tarefas e estamos muito mais tranquilos no dia a dia do que num clube”, explica o técnico, que salienta tratar-se “de um país com grande paixão pelo futebol”, apesar do acesso aos estádios ainda se encontrar com muitos constrangimentos após a morte de dezenas de adeptos num jogo, em 2012.

O treinador adaptou-se também à forma como a religião é vivida no país: “Temos as coisas planeadas e se coincide com uma reza, tem de haver ajustes”.

“A religião regula tudo e é visível na comemoração dos jogos, na final de cada parte de um jogo têm uma forma de se manifestar religiosa”, lembra.

“Há um grande reconhecimento pelo treinador português”

Num país que já acolheu outros técnicos lusos, como Manuel José e Jesualdo Ferreira, “há um grande reconhecimento pelo reinador português”.

“Temos o mesmo género de trabalhar, as pessoas são parecidas, temos facilidade em adaptarmo-nos”, partilha Rui Vitória, que ainda assim sente saudades dos sabores portugueses.

Pois, precisamente por motivos religiosos, “não se bebe álcool”, e por isso “não ha um copinho de vinho para, de vez em quando, matar a saudade”.

“Salah é um craque dentro e fora do campo”

Sobre a estrela que se destaca na seleção egípcia, Salah, que também brilha no Liverpool, Rui Vitória deixa grandes elogios.

“É um craque dentro e fora do campo. Costumo dizer que os jogadores têm de ser top em tudo, ter um grande carro, uma grande casa, mas também têm de ser top noutras coisas, não é só com a bola nos pés. E o Salah é solidário, sempre preocupado com os colegas, tem um conceito de equipa muito apurado”, partilha o selecionador.

“Acabei por fazer o Ramadão tal como um muçulmano”

Entre as experiências mais marcantes, Rui Vitória destaca a forma como acabou “por fazer o Ramadão tal como um muçulmano”. Durante este período, é necessário iniciar o jejum ao nascer do sol, que só é quebrado quando este se põe.

“Fizemos um estágio no momento em que decorria o Ramadão. Marcávamos as refeições para as 03:45 e depois só voltávamos a comer depois das 18:00. Montar este cenário não é uma tarefa fácil”, reflete o treinador, lembrando como depois de jantar todos iam “para os quartos ou para o convívio” e voltavam à mesa de madrugada.

O jejum terminava “com um ritual importante”, “com toda a gente sentada à mesa, ao por do sol, à espera do momento em que há um chamamento e se pode começar a comer, primeiro com água e uma tâmara, e só depois segue a refeição”.

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