Saúde e Bem-estar

Casos de sífilis e gonorreia aumentam em Portugal: o alerta para o uso de preservativo

"É bom que tenhamos consciência de que essas infeções são, muitas vezes, assintomáticas e, portanto, a pessoa não sabe que está infetada e transmite-a".

Casos de sífilis e gonorreia aumentam em Portugal: o alerta para o uso de preservativo
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Os casos de sífilis e gonorreia, doenças sexualmente transmissíveis, estão a aumentar em Portugal, mas as infeções pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV) registaram uma grande diminuição graças à vacinação, disse à Lusa a especialista Cândida Fernandes.

A médica responsável pela Consulta de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, que pertence à Unidade Local de Saúde (ULS) São José, explica que se começou a assistir desde os anos 2000 a um aumento da sífilis, que se tem mantido, embora a um ritmo menor, e na última década o maior aumento tem sido de casos de gonorreia.

A clamídia também é uma infeção sexualmente transmissível "muito prevalente" em Portugal, mas o número de casos tem-se mantido estável, adiantou a especialista, ressalvando que o aumento das infeções sexualmente transmissíveis não acontece apenas em Portugal, mas também nos países europeus e ocidentais.

"Nas raparigas vacinadas deixámos praticamente de ter estas verrugas genitais”

Por outro lado, a infeção pelo vírus do HPV, que há 20 anos era a causa mais frequente da consulta de DST, deixou praticamente de existir por causa da vacina que foi introduzida no plano nacional de vacinação em 2008.

"Nas raparigas vacinadas deixámos praticamente de ter estas verrugas genitais [HPV] e também já se nota uma diminuição nos homens, portanto, isso é um dado muito positivo", disse a especialista, defendendo as vacinas como "medidas muito importantes na prevenção das infeções".

Consulta de “porta aberta” e gratuita

A consulta do Hospital de Santo António dos Capuchos funciona em regime de "porta aberta", acolhendo utentes de todo o país de forma gratuita, e a procura tem vindo a crescer de ano para ano: em 2021 foram realizadas 4.411 consultas, número que subiu para 5.157, em 2022, e para 5.209 no ano passado.

"A nossa consulta é fundamentalmente de pessoas abaixo dos 40 anos, embora haja pessoas mais velhas".

O uso do preservativo e a vacinação

A especialista recordou que as medidas eficazes para prevenir estas doenças são o uso do preservativo e a vacinação contra as infeções para as quais existem vacinas, como o HPV e a Hepatite B, bem como fazer o rastreio.

Realçou ainda que, do ponto de vista epidemiológico, "o controlo destas infeções tem sido sempre muito difícil" e que, ao longo dos anos, as medidas para as controlar "têm tido uma eficácia muito relativa".

"No fundo, nunca houve uma medida de saúde que conseguisse mudar de forma consistente o comportamento das pessoas", lamentou a médica, que exerce há mais de 20 anos nesta consulta.

No caso do preservativo, Cândida Fernandes disse que houve sempre "uma reticência" relativamente ao seu uso.

"O preservativo usado de forma consistente em todas as relações permite a diminuição marcada das infeções de transmissão sexual só que tem sido difícil que seja aceite a sua utilização".

Na altura em que a sida era uma doença mortal existia "um medo muito palpável" nas pessoas, que se protegiam mais, mas o tratamento eficaz da doença e o acesso à Profilaxia Pré-Exposição ao VIH (PrEP) "facilitaram a manutenção da transmissão das outras infeções que por causa disso têm aumentado".

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DGS alerta para importância do preservativo

A diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida, Isabel Aldir, alerta também para a necessidade do uso consistente do preservativo para evitar infeções sexualmente transmissíveis como a sífilis.

Isabel Aldir recorda que esta doença teve uma "expressão importante" no século passado, mas que foi diminuindo e agora voltou a crescer, sendo por isso premente "alertar as consciências para a utilização do preservativo".

Além de ser um método contracetivo, "contribui em muito na luta contra estas infeções sexualmente transmissíveis", afirmou a diretora do programa da Direção-Geral da Saúde.

"É bom que tenhamos consciência de que essas infeções são, muitas vezes, assintomáticas e, portanto, a pessoa não sabe que está infetada com uma delas e transmite-a", criando-se "condições para que estas cadeias de transmissão se mantenham e sejam muito eficazes", avisou.

Entre as IST estão doenças como o VIH, a hepatite B, que têm tratamento, mas não tem uma cura, a hepatite C, que tem "um tratamento altamente eficaz, embora haja casos que não se conseguem tratar".

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Outros problemas associados à gonorreia e à sífilis

Estão também a gonorreia, que pode causar problemas de fertilidade nas mulheres, e a sífilis, que "é de difícil diagnóstico" e "pode passar despercebida", apesar de ser detetável em análises ao sangue. Contudo, "pode evoluir ao longo dos anos e, inclusivamente, fazer atingimentos do cérebro, do coração, do sistema nervoso, dos olhos e pode ser transmitida" de mãe para filho e dar origem a casos de sífilis congénita.

Para dar expressão ao uso do preservativo, a data comemora-se nas vésperas do Dia dos Namorados (14 de fevereiro), para alertar as pessoas para usarem este método para que "vivam de uma forma saudável sua vida sexual".

A DGS vai assinalar a data com uma campanha, através da divulgação em redes sociais, 'sites' e distribuição gratuita de preservativos, que visa alertar para "a mais valia de um método tão ancestral como este, mas tão atual ainda hoje", adiantou.


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