Vitorina veio para Lisboa há um ano à procura de uma resposta da ciência. Em Angola, não havia condições para separar as filhas, gémeas unidas pela bacia, um tipos de siameses mais raros do mundo, que representa apenas 7% dos casos.
A cirurgia, realizada em Portugal, foi acompanhada pela SIC, numa Grande Reportagem que será transmitida no Jornal da Noite desta quarta-feira.
“Em Angola, no meu país, os médicos disseram-me que tinha de escolher uma delas e que tinha de estar preparada porque não sabiam se iriam salvá-las”, conta Vitorina Silva.
Rui Alves, diretor de cirurgia pediátrica no Hospital Dona Estefânia, explica que as gémeas podiam viver assim, mas havia um grande risco. “Se uma delas falecer, a outra vai falecer em prazo de horas”.
Mãe deixou dois filhos em Angola
Na procura pela qualidade de vida das filhas, a mãe vive há quatro anos em quartos de hospitais. Para trás, em Angola, ficaram os outros dois filhos, com os avós.
"A saudade é enorme. Sinto muita falta deles", diz Vitorina.
As siamesas vieram para serem operadas em Lisboa ao abrigo de um acordo entre os Ministérios da Saúde português e angolano.
Cirurgia envolveu mais de 40 profissionais
Foram oito meses de preparação para a cirurgia que aconteceu em julho deste ano. Uma operação complexa que não era feita em Portugal há 24 anos e que envolveu mais de 40 profissionais de saúde.
Apesar da raridade da malformação, o risco de mortalidade sempre foi reduzido porque não partilhavam órgãos nobres: nasceram com dois corações, dois cérebros, quatro pulmões, com os grandes vasos e com dois intestinos delgados.
O grande desafio para os médicos sempre foi o que fazer com o intestino grosso e com o ânus, porque só havia um.
A decisão foi tomada apenas durante a cirurgia. A Bibiana ficou com o intestino grosso, enquanto a Domingas terá de viver, provavelmente para sempre, com um saco de ileostomia, que recolhe fezes.
As gémeas também partilhavam o fígado, que foi separado na operação. Cada uma ficou com uma parte.