Geração 70

Ricardo Araújo Pereira: o humorista que começa a “suar” quando pensa em arranjar "um emprego sério”

Sempre gostou de fazer rir os outros e hoje é a “inclinação para o humor" que lhe paga as contas. Fazer outra coisa na vida? É melhor nem pensar nisso.

Ricardo Araújo Pereira: o humorista que começa a “suar” quando pensa em arranjar "um emprego sério”
TOMAS ALMEIDA

Nasceu a 28 de abril, em Lisboa. É filho único, o pai foi piloto da TAP e a mãe assistente de bordo. Vivia na Rua dos Soeiros, perto do Estádio da Luz. Em criança, vestia-se à Benfica, com os equipamentos que a mãe bordava à mão, e jogava futebol de manhã à noite, "até deixar de ver a bola.”


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A avó Adélia “era um livro de auto-ajuda ao contrário”

As férias de verão eram passadas com a avó materna, na casa de campo da família, em Colares. “A minha avó foi decisiva na minha vida. Era um livro de auto-ajuda ao contrário."

A avó Adélia nasceu em 1920, em Paredes de Coura, na pequena aldeia de São Martinho de Coura. Tinha a terceira classe e trabalhava no campo. Depois de casar emigrou para o Brasil. Mais tarde regressou a Portugal, viúva, e com as duas filhas.

A infância foi “despreocupada”, mas “regrada”. Em casa havia livros e sempre gostou de ler, em pequeno lia para a avó. Desde sempre que tem uma “inclinação” para o humor e “investia tempo a pensar em como é que conseguia fazer rir os outros.”


“A minha mãe contou à minha avó que eu me tinha feito militante do PCP”

Nasceu numa altura quente do país, mas ao contrário da avó não viveu “nem um minuto” em ditadura. Os pais votavam no centro esquerda e na casa da avó a “única vez” que ouvia falar de política era quando faltava a luz, à hora da novela - “ela culpava os comunistas.”

Andou sempre em escolas católicas. Licenciou-se em Jornalismo, estagiou no Jornal de Letras e, mais tarde, começou a escrever para “atores a sério.”

Aos 24 anos - “sem nenhuma aspiração política” - inscreveu-se no PCP, depois de uma grande derrota do partido numas eleições autárquicas. “A minha mãe contou à minha avó que eu me tinha feito militante do PCP. Ela fez silêncio e respondeu: ‘mas ele é um bom rapaz’. O que é falso.”


O “lamaçal” político em que vivemos

Durante a conversa, Ricardo Araújo Pereira fala da situação atual do país e da crise política em que vivemos. Alerta para os “ganhos” da extrema direita e considera “imperdoável” que o Chega “esfregue as mãos de contente”, por causa de um Governo que “já estava minado.”

Sobre os casos que envolvem o ainda primeiro-ministro, espera que as “suspeitas do Ministério Público sejam suficientemente fortes”, para justificar a queda de um Governo de maioria absoluta.

E a relação com o Presidente da República e a queixa-crime de que foi alvo? “Os meus pais disseram-me: ‘realmente, abusaste’.”


“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.

Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.

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