O relatório da Procuradoria Geral da República divulgado no ínicio deste ano contabiliza a morte de 22 pessoas - 17 mulheres, três homens e duas crianças. Em pelo menos 27% dos casos tratam-se de situações de violência familiar que já tinham sido denunciadas e identificadas pela justiça anteriormente.
"Esta naturalização e banalização que temos ainda da violência doméstica, é algo que está muito naturalizado. Temos as questões de género, a educação patriarcal ainda, que vai legitimando alguns atos de violência, em particular contra jovens raparigas e mulheres", afirma Elisabete Brasil, que trabalha com vítimas de violência doméstica desde 1997.
A coordenadora na FEM (Feministas em Movimento) alerta ainda para o facto de, muitas vezes, não ser fácil identificar uma pessoa que é vítima de violência doméstica. Por se tratar de um crime público, há mais de 20 anos, qualquer pessoa pode fazer queixa às autoridades. A denúncia não precisa ser feita pela vítima.
No ano passado foram registadas mais de 30 mil denúncias pela PSP e pela GNR, das quais resultaram mais de duas mil detenções. Elisabete Brasil diz que o aumento do número de denúncias é "bom sinal", mas relembra que continuam a ser poucas as condenações.
"A maior parte dos processos de violência doméstica acabam assim, arquivados. Aquilo que vai para condenação é uma ínfima parte"
Embora os casos cheguem cada vez mais cedo, a APAV (Associação de Apoio à Vítima), diz que os casos são agora mais violentos do que os anteriores. Ameaças, insultos, agressões físicas e difamação são as situações de violência doméstica mais relatadas.