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De Sá Carneiro a Pedro Nuno: quando os candidatos a primeiro-ministro não vêm de Lisboa

Pedro Nuno Santos anunciou que irá manter-se cabeça de lista por Aveiro. Desde as eleições de 1976, dois terços das candidaturas a primeiro-ministro são feitas em Lisboa. Mas quando se contabilizam os candidatos, os números são mais próximos. Apenas três primeiros-ministros foram eleitos fora do círculo da capital

De Sá Carneiro a Pedro Nuno: quando os candidatos a primeiro-ministro não vêm de Lisboa
Inês M. Borges

Pedro Nuno Santos anunciou que irá voltar a ser cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Aveiro, o distrito onde nasceu e onde se formou enquanto político. Diz ter “muito orgulho” da sua terra e que “por nada a trocaria por Lisboa”. Luís Montenegro, principal adversário, já anunciou que irá liderar a lista por Lisboa, apesar de ter nascido no Porto.

"Não há nenhuma razão para eu trocar o meu círculo eleitoral por Lisboa. Eu sou natural de São João da Madeira, fiz todo o meu percurso político no distrito de Aveiro e fui já cabeça de lista três vezes do distrito de Aveiro", disse Pedro Nuno Santos no final de uma visita ao CEiiA -- Centro de Engenharia e Desenvolvimento, em Matosinhos, no distrito do Porto, na passada sexta-feira.

Pensar na eleição do primeiro-ministro pode gerar uma associação direta a Lisboa, mas Pedro Nuno Santos não é uma exceção. Desde as eleições de 1976, oito candidatos a primeiro-ministro apresentaram candidaturas fora do círculo de Lisboa. Dois primeiros-ministros foram até eleitos em listas que não a da capital.

Dos 17 candidatos a primeiro-ministro apresentados pelo PS e PSD, 11 apresentaram-se por Lisboa e oito por outros distritos. As contas não batem certo, porque há dois candidatos (Francisco Sá Carneiro e Pedro Passos Coelhos) que integraram listas de círculos diferentes em eleições diferentes. No que toca ao número de candidaturas, cerca de dois terços foi, de facto, em Lisboa.

Logo na primeira eleição, em 1976, Francisco Sá Carneiro apresentou-se como candidato pelo Porto, tendo mudado para Lisboa nas eleições seguintes, quando liderou a coligação AD (com o CDS e o PPM). Carlos Mota Pinto, também do PSD, foi cabeça de lista por Coimbra nas legislativas de 1983, contra Mário Soares. Também António Almeida Santos (PS) integrou as listas pelo Porto no sufrágio de 1985.

Mas foi preciso chegar a 1995 para ter uma eleição sem nenhum candidato a primeiro-ministro no círculo de Lisboa. Nesse ano, António Guterres (PS) apresentou-se por Castelo Branco e Fernando Nogueira (PSD) pelo Porto. Apesar de ter nascido em Lisboa, Guterres tem uma forte ligação familiar ao distrito de Castelo Branco, em particular ao concelho do Fundão. Foi nestas legislativas que se elegeu, pela primeira vez, um primeiro-ministro fora do círculo da capital.

O feito só se viria a repetir em 2011, quando José Sócrates, candidato por Castelo Branco, se defrontou contra Pedro Passos Coelho, que se apresentou por Vila Real. Sócrates apresentou-se sempre como candidato por Castelo Branco, tendo passado a sua infância e adolescência na Covilhã. Foi também por Castelo Branco que foi eleito por duas vezes primeiro-ministro.

A vitória do PSD nas eleições de 2011 aumentou o número de distritos onde foram eleitos primeiros-ministros. A ligação de Passos Coelho a Vila Real está também relacionada com a sua adolescência. Passou a infância em Angola, mas, após a revolução do 25 de Abril, regressou com a família para Vale de Nogueiras, a terra do pai.

Na segunda vez que foi a eleições, Passos Coelho acabou por fazer o mesmo que Sá Carneiro: trocou Vila Real por Lisboa. Nessas eleições, o então presidente do PSD apresentou-se ao eleitorado como um dos líderes da coligação PAF - circunstâncias semelhantes às do fundador do PSD, que concorreu em 1979 e 1980 pela coligação AD.

Nas 16 eleições realizadas desde 1974 houve 20 candidatos a primeiro-ministro pelo círculo de Lisboa e 12 que se apresentaram em listas por outros distritos. O PSD apresenta mais candidatos fora da capital – Sá Carneiro, Mota Pinto, Fernando Nogueira, Passos Coelho e Rui Rio –, enquanto o PS soma um maior número de candidaturas realizadas noutros distritos – duas de Guterres, três de Sócrates e uma de António Almeida Santos.

As escolhas dos círculos eleitorais de Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro vão manter a tendência: em nove das 17 eleições (incluindo a de 2024) houve um candidato a primeiro-ministro de Lisboa e um candidato de outro distrito. Seis eleições foram disputadas em Lisboa e duas não tiveram qualquer candidato na capital.

Se Pedro Nuno Santos se tornar primeiro-ministro, será o primeiro a ser eleito por Aveiro e o quarto a ser eleito fora do círculo de Lisboa. Por outro lado, se for Montenegro a liderar o próximo Governo, será o sexto primeiro-ministro eleito pela capital.

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