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Partido italiano de Salvini escolhe candidato polémico para as eleições europeias

Roberto Vannacci vai ser o principal candidato às europeias. O general liderou as tropas italianas no Iraque, Afeganistão e Líbia - e antes disso nos Balcãs, Ruanda e Somália - e foi premiado com a Legião de Mérito dos EUA em 2018 pela sua liderança contra o grupo Estado Islâmico.

Partido italiano de Salvini escolhe candidato polémico para as eleições europeias
FLAVIO LO SCALZO

O partido italiano de direita Liga, do vice-primeiro-ministro Mateo Salvini, escolheu como principal candidato às europeias o general Roberto Vannacci, um homem controverso devido às suas posições sobre migrantes, homossexuais e o lobby ambiental.

A candidatura do general Roberto Vannacci dominou o discurso político italiano, as manchetes e os noticiários durante dias e atraiu, nesta terça-feira, uma audiência em pé no Templo de Adriano, em Roma, não muito longe do parlamento.

Oficialmente, Salvini estava ali a apresentar o seu novo livro de memórias - "Contra o Vento: A Itália que não se rende" -, mas o evento representou o primeiro encontro entre Salvini e Vannacci, que este aproveitou para uma ação de campanha onde expos as suas opiniões sobre a migração, as raízes cristãs da Europa e a necessidade de defender as fronteiras europeias.

O general liderou as tropas italianas no Iraque, Afeganistão e Líbia - e antes disso nos Balcãs, Ruanda e Somália - e foi premiado com a Legião de Mérito dos EUA em 2018 pela sua liderança contra o grupo Estado Islâmico.

Porém, o ministro da Defesa italiano demitiu-o em agosto do cargo de chefe do instituto geográfico militar e, mais tarde, disciplinou-o, depois de ter publicado "O Mundo ao Contrário", um manifesto em que expôs as suas convicções sobre as pessoas LGBTQ+, o 'lobby' ambiental, o multiculturalismo e a migração.

"O general Vannacci exprimiu opiniões que desacreditam o exército, o ministério da defesa e a Constituição", afirmou na altura o ministro da Defesa Guido Crosetto no Twitter, anunciando uma ação disciplinar contra ele por ter escrito o livro sem autorização dos seus superiores.

Em fevereiro, os procuradores de Roma abriram uma investigação por alegado incitamento ao ódio racial, segundo a imprensa italiana.

Esta semana, Vannacci manteve viva a indignação, à esquerda e à direita, ao dizer ao jornal La Stampa que as crianças com deficiência deviam ser ensinadas separadamente nas escolas.

Salvini defendeu o direito de Vannacci a exprimir as suas opiniões e acusou os meios de comunicação social de descontextualizarem os seus comentários sobre a deficiência.

Nesta terça-feira, Salvini disse que não partilhava todas as ideias de Vannacci, mas que o general também não partilhava todas as suas.

Vannacci, por seu lado, disse que sabia que estava a correr um risco ao publicar o seu livro, mas acreditava que devia aos seus filhos dizer a sua verdade e agora lutar na política por eles.

Segundo analistas, Salvini está a tentar dar um novo fôlego ao seu partido, aproveitando a tempestade mediática em torno de Vannacci, depois de nos últimos anos ter perdido espaço para o partido de direita Irmãos de Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, da qual é parceiro júnior no Governo italiano.

"Matteo Salvini tem um partido em crise", disse Lorenzo Castellani, professor de história política na universidade Luiss, em Roma, observando que a Liga obteve 34% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu de 2019 e hoje não dever obter mais do que 8%.

Numa entrevista telefónica, Castellani salientou que a personalidade mediática de Vannacci pode valer à Liga "algumas dezenas de milhares de votos a mais".

No entanto, está a causar divisões no partido, já que os partidários mais para o centro-direita da Liga estão a opor-se à escolha mais radical que Vannacci representa.

Castellani disse ainda que essa dissidência interna sublinha os problemas que a Liga está a enfrentar e o risco de Salvini ser substituído no partido pela personalidade mediática do general.

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