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Como é que alguém se torna canhoto? Cientistas descobrem gene que pode ter influência

A descoberta baseia-se nos dados genéticos de mais de 350 mil adultos.

Como é que alguém se torna canhoto? Cientistas descobrem gene que pode ter influência
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Há um gene relacionado com a formação das células que pode oferecer postas sobre os motivos que levam algumas pessoas a serem canhotas. A conclusão é de um estudo publicado, esta terça-feira, na revista científica Nature Communications.

Estudos apontam que cerca de 10% da população mundial – grupo que inclui personalidades como Lady Gaga, Barack Obama, Paul McCartney ou Justin Bieber - será “canhota” ou “esquerdina”. Isto é: 10% das pessoas têm maior habilidade com o lado esquerdo do corpo, em especial com a mão e esta nova investigação ajuda a tentar compreender porquê.

Investigadores identificaram variantes genéticas raras envolvidas no controlo da formação das células e descobriram que elas são 2,7 vezes mais comuns em pessoas canhotas. Há um gene chamado “TUBB4B”, que, acreditam os cientistas, terá influência no desenvolvimento da assimetria do cérebro que determina qual será a mão dominante de uma pessoa

"Na maioria das pessoas, é o hemisfério esquerdo que controla a mão direita dominante. As fibras dos nervos passam do lado esquerdo para o direito na região mais baixa do cérebro. Nas pessoas esquerdinas, é o hemisfério direito que está em controlo da mão dominante”, explica Clyde Francks, cientista do Max Planck Institute for Psycholinguistics, nos Países Baixos, e um dos autores do estudo, citado pela agência Reuters.

O gene TUBB4B controla a proteína que entra nos filamentos que garantem a estrutura interna das células. E as mutações genéticas raras no TUBB4B são mais comuns em canhotos, o que aponta para que estes filamentos estejam envolvidos no modo como o cérebro define as assimetrias.

A descoberta baseia-se nos dados genéticos de mais de 350 mil adultos britânicos, disponíveis no banco de dados UK Biobank. Cerca de 11% dos participantes da amostra eram esquerdinos

Descoberta pode ter aplicações noutros ramos científicos

Esta investigação, afirma Clyde Francks, pode também vir a ter relevância no campo da psiquiatria, já que doenças como a esquizofrenia são duas vezes mais comuns em pessoas esquerdinas ou ambidestras (que têm igual habilidade tanto na mão esquerda como na direita) e três vezes mais comuns em pessoas com autismo.

Ainda assim, o investigador ressalva que esta influência genética corresponde a uma fração muito pequena (cerca de 0,1%) do que leva alguém a ser canhoto e que a determinação da mão dominante pode ser, para a maioria das pessoas, fruto do acaso.

“Acreditamos que, na maior parte dos casos, alguém se torna canhoto simplesmente por causa de variações aleatórias durante o desenvolvimento do cérebro no período embrionário”, refere Clyde Francks. “Por exemplo, alterações aleatórias na concentração de certas moléculas."

A prevalência de esquerdinos também varia, nota o cientista, conforme a região do mundo. Em África, na Ásia e no Médio Oriente, as percentagens são mais baixas do que, por exemplo, na Europa e na América do Norte – o que, sustenta, pode refletir a supressão dos canhotos em algumas culturas, em que as crianças são forçadas a aprender a escrever com a mão direita.

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