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Acabar com poluição por plásticos: 170 países negoceiam tratado

O grande objetivo deste tratado é acabar com a poluição por plástico até 2040. A ciência diz que está na altura de encararmos os riscos deste material para a saúde e para o ambiente.

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Cerca de 170 países estão a negociar um tratado global para acabar com a poluição por plásticos. Um produto deste material pode ter milhares de compostos químicos e há evidência científica de que alguns prejudicam a saúde humana.

Está na roupa que vestimos, no carro que conduzimos, nos brinquedos, nos produtos de higiene e beleza que temos em casa, nos copos e embalagens que usamos.

Sem dúvida que o plástico facilita o nosso dia-a-dia. É um produto barato, que torna a nossa vida mais cómoda e prática.

Mas cada vez mais a Ciência demonstra que temos de ver para lá da conveniência e encarar os riscos, para o ambiente e para a saúde.

Um relatório das Nações Unidas tinha identificado cerca de 13 mil substâncias químicas nos plásticos mas uma equipa de cientistas europeus cruzou toda a informação atualmente disponível e diz que são pelo menos 16 mil.

“Sabemos que 25% cerca de 4.200 produtos químicos, têm propriedades que não são boas para a saúde, nem para o ambiente, nem para ambos. Para os outros 75%, na verdade não temos quaisquer dados, por isso não sabemos exatamente se são perigosos para a saúde ou não.” disse Jane Muncke, coautora do relatório.

Um dos motivos porque não se sabe mais é a falta de transparência. A pesquisa financiada pelo Conselho de Investigação Norueguês concluiu que apenas 6% das milhares de substâncias estão regulamentadas a nível internacional.

A migração dessas substâncias das embalagens para a comida ou para a bebida é uma das formas de chegarem ao nosso organismo.

"A exposição tanto pode ser através da alimentação, como através da inalação ou através do contacto dérmico." afirma Conceição Calhau, professora catedrática de bioquímica na Nova Medical School.

Deve prevalecer a precaução e a atenção redobrada

O nosso corpo tem mecanismos de defesa, mas há partículas que passam essas barreiras e que se acumulam. A Ciência tem encontrado, de forma consistente, relação entre essa acumulação ao longo do tempo e problemas de saúde como diabetes, doenças cardiovasculares, infertilidade e cancro.

"Estes compostos alteram as hormonas; também alteram neurotransmissores, vias neuroniais. E, portanto, cada vez se vai conhecendo mais que estas moléculas conseguem boicotar, no fundo, aqui um bocadinho entre aspas, muitas das nossas sinalizações e das nossas comunicações celulares e que acaba por se relacionar com a doença."

Na falta de mais dados, os cientistas dizem que deve prevalecer a precaução e a atenção deve ser redobrada nos primeiros tempos de vida.

"A parte intrauterina, a vida em útero, é extremamente importante em termos de formação endócrina e os primeiros dois anos também.", alerta Conceição Calhau.

À medida que crescemos vamos estando mais expostos, mas há pequenos gestos ao nosso alcance para reduzir a exposição como ter uma alimentação variada e usar devidamente uma garrafa de água.

"O risco será por exemplo quando a deixamos ou sol, ou colocamos um chá ou um sumo... aí há um risco porque há uma má utilização e há o risco de migrarem substâncias, porque aquela embalagem não foi feita para aquele fim. Damos a recomendação de utilizar embalagens de vidro para o transporte de alimentos quentes; ou deixamos arrefecer, pomos na embalagem de plástico e depois não aquecemos dentro da embalagem de plástico."

Tratado global para travar a poluição por plásticos

Além da preocupação com a saúde humana, o impacto do plástico no ambiente é difícil de ignorar. Todos os anos são produzidos cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos e 85% do lixo marinho é plástico.

Em 2022, os alertas mobilizaram cerca de 170 países a tentar elaborar o primeiro tratado global para travar a poluição por plásticos e Portugal foi um deles.

Elisabete Quintas é a chefe da delegação portuguesa que integra o grupo de especialistas em resíduos, químicos, lixo marinho e negociação e diz que onde têm "dificuldades na negociação é chegar a compromissos, conseguir diálogos positivos, por enquanto, em termos de medidas dirigidas à produção."

A resistência surge dos países produtores de petróleo, principal matéria-prima do plástico, e de resíduos de plástico.

Elisabete acrescenta que "o fundamentalismo nas negociações resulta em nada. A solução será conseguirmos fasear o suficiente de forma a não perder o essencial que é combater a poluição por plástico e permitir a estes países entrarem num acordo e implementarem-no."

O grande objetivo deste tratado é acabar com a poluição por plástico até 2040.

Os países voltam a reunir-se no comité criado pela Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente em abril, no Canadá e a última reunião, onde se espera aprovar o documento final, está marcada para o final de novembro, na Coreia do Sul.

A ONU quer o documento pronto no final deste ano.

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