O Parlamento francês aprovou, na passada quinta-feira, uma série de medidas que irão tornar as chamadas ultra fast-fashion, especialmente as grandes produtoras chinesas, menos atraentes para os consumidores franceses.
As principais medidas incluem a proibição de publicidade de têxteis mais baratos e uma taxa ambiental imposta aos artigos de baixo custo. O projeto de lei foi desenhado pelo Horizons, partido de Emmanuel Macron, e tem como objetivo principal proteger o ambiente, enquanto defende as marcas nacionais. De acordo com a AFP, o mercado de vestuário francês tem sido inundado por roupas importadas baratas, deixando várias empresas francesas na falência.
"Os têxteis são a indústria mais poluente", disse Anne-Cecile Violland, deputada do Horizons, afirmando que o setor é responsável por 10% das emissões de gases com efeito de estufa e é um grande poluidor da água.
A deputada francesa referiu que a Shein, por exemplo, produz 7.200 novas peças de roupa por dia.
A nova lei fará de França o primeiro país do mundo a “legislar os excessos da moda ultra rápida”, declarou Christophe Bechu, ministro da Transição Climática.
À Reuters, a Shein disse que as roupas que a marca produz respondem às solicitações existentes, o que permite que a taxa de roupa não vendida permaneça em níveis baixos, enquanto os vendedores tradicionais podem ter até 40% de desperdício. Em comunicado, acrescentou que a medida irá “agravar o poder de compra dos consumidores franceses, numa altura em que já sentem o impacto do custo de vida”.
O Governo francês não tem a mesma visão e, por isso, irá aplicar critérios como volume de peças produzidas e a velocidade de rotação de novas coleções para determinar as marcas consideradas ultra fast-fashion. Assim que a lei entrar em vigor, depois da aprovação da câmara alta do Parlamento francês, os critérios serão publicados em decreto.
Para já, sabe-se que a taxa ambiental ligada à pegada ecológica será de 5 euros por peça e será aplicada a partir do próximo ano, aumentando para 10 euros até 2030. A cobrança não pode, no entanto, exceder 50% do preço do produto.
O valor da taxa será usado em subsídios e ajudas a vendedores de roupa sustentável, permitindo-lhes competir mais facilmente no mercado, disse Anne-Cecile Violland.
Para a responsável pela associação Zero Waste France, Charlotte Soulary, a decisão é um “grande alívio” e um “primeiro passo histórico” para limitar o fast-fashion.
“Com a sua estratégia de marketing agressiva, o fast-fashion leva-nos a comprar mais roupa. Estamos a comprar o dobro das peças de roupa em comparação há 20 anos e duram metade do tempo, pois são peças de má qualidade”, sublinhou.
No entanto, em Paris, as opiniões dividem-se, com alguns franceses a saudar as medidas e outros a considerarem que a causa ambiental é secundária em relação aos preços oferecidos pelas ultra fast-fashion.
Com Reuters e AFP