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Rússia acusada de executar militares ucranianos que se renderam em Avdiivka

Um video partilhado por blogs russos mostra os corpos de um grupo de soldados ucranianos em Avdiivka. Os familiares dos militares acusam a Rússia de os ter matado após estes se terem rendido.

Rússia acusada de executar militares ucranianos que se renderam em Avdiivka
Libkos

A Rússia anunciou, no início desta semana, que detinha o controlo de Avdiivka, no leste da Ucrânia. Dias depois da tomada da cidade, familiares de soldados ucranianos acusam Moscovo de crimes de guerra. Em causa está a morte de militares ucranianos feridos que se terão rendido.

A suspeitas começaram com a partilha de um vídeo em blogs militares russos, após a tomada da cidade de Avdiivka. Este conteúdo mostra os corpos de pelo menos três soldados ucranianos que estavam feridos e que se terão rendido quando as forças russas tomaram a base Zenith, no sudeste da cidade.

Durante semanas, os soldados ucranianos lutaram por manter a posição nesta zona do confronto. Apesar dos avanços russos – e dos sucessivos pedidos para retirada – as chefias só autorizaram a retirada dos soldados a 13 de fevereiro.

Segundo o comandante-chefe Oleksandr Syrskyi, o objetivo desta ordem era salvar as vidas dos soldados. Mas, para quem estava no terreno, a autorização para retirada chegou tarde.

Em declarações à BBC, um soldado que fugiu de Avdiivka conta que os pedidos desesperados para retirada foram sucessivamente recusados e, quando a ordem finalmente chegou, os soldados já estavam rodeados por russos.

 

Ordem veio tarde e os soldados feridos tiveram de ficar para trás

Quando a ordem chegou, o paramédico Ivan Zhyntyk enviou uma mensagem ao cunhado: “Foi-nos dito para retirar e lutar pelo nosso regresso. Mas atrás de nós estão [russos]. Não sei o que fazer.

Decidiram tentar: Ivan foi um dos nove soldados que ficou incumbido de abrir a passagem para os restantes colegas. Para Viktor Bilyak, um dos soldados que estava na base de Zenith com Ivan, “eles foram os mais corajosos”, cita a BBC.

A primeira tentativa de retirada não teve sucesso. Os militares ucranianos foram confrontados com artilharia russa e tiveram de voltar para trás. Apenas três conseguiram regressar à base Zenith.

Ivan ficou gravemente ferido e caiu num campo antes de chegar à base. Foi resgatado por quatro colegas debaixo de fogo de morteiros russos. Durante o resgate, um ataque com drones russos aumentou o número de feridos.

“Em vez de um ferido, passamos a ter mais cinco”, conta Viktor.

Acabaram por conseguir regressar à base de Zenith. Ivan ligou ao comandante para saber em que ponto estava a operação de evacuação. Foi lhe dito que eles teriam de abandonar a zona por sua conta e que o envio de uma equipa de resgate era demasiado arriscado.

“E os feridos?”, perguntou Ivan. “Deixem-nos para trás”, respondeu o comandante.

Viktor lembra que “todos ouviram esta conversa no rádio e congelaram”. Reconhece, no entanto, que, “debaixo de fogo implacável, não era possível carregar os feridos na escuridão”.

 

Familiares de militares mortos acusam Rússia de crimes de guerra

Seis soldados ficaram na base de Zenith: cinco que estavam feridos e não conseguiam andar e um que, apesar de não estar ferido, decidiu ficar com os colegas. Três destes militares (incluindo Ivan) foram identificados pelas famílias no vídeo partilhado por blogs russos.

O exército ucraniano anunciou, através do Facebook, que tinha “contactado com organizações que realizam conversações para troca de prisioneiros”. O objetivo era providenciar assistência aos soldados que tinham ficado para trás em Avdiivka. A Rússia terá aceitado retirar os soldados ucranianos feridos para posteriores trocas.

Poucas horas antes dos russos chegarem à base de Zenith, Ivan recebeu essa informação. Mas, ao telefone disse ao cunhado, Dmitriy, que não acreditava que a Rússia “mantivesse os feridos vivos.

Ivan estava em videochamada com o cunhado quando os russos chegaram. Dmitriy ouviu-os gritar “guardem as armas. Em declarações à BBC, conta que viu “um homem com barba” e que pediu a Ivan “que passasse o telemóvel”.

“Eu queria pedir-lhes para não os matar. Mas ouvi uma voz que disse: ‘desliga o telemóvel’.”

Após esta situação, os familiares de Ivan estavam convencidos que os soldados ucranianos tinham sido feitos prisioneiros. “Eles não resistiram”, lembra a irmã de Ivan.

Um outro soldado que ficou na base de Zenith, Georgiy Pavlov, enviou uma mensagem à mãe momentos antes das forças russas chegarem: “Os russos sabem que estamos aqui sozinhos”, escreveu ele pelas 11:15 do dia 15 de fevereiro. Foi a última comunicação que enviou.

Dias depois, apareceu o vídeo. Os familiares de Ivan, Georgiy Pavlov e Andriy Dubnytsky não têm dúvidas que são os corpos destes soldados que surgem no clip partilhado por blogs militares russos.

“Eles foram mortos por russos”, afirma Inna Pavlova, mãe de Georgiy, à BBC. “Mas as nossas lideranças militares permitiram que isto acontecesse.”
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