Saúde Mental

"É frustrante e angustiante": Falta de psicólogos no SNS causa longas lista de espera e deixa casos graves para trás

O SNS tem apenas 1.000 psicólogos dos 26.000 inscritos na Ordem. O número é insuficiente para responder às necessidades e os utentes chegam a esperar um ano e meio por uma consulta.

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O desafio coloca-se todos os dias aos psicólogos que trabalham no Serviço Nacional de Saúde. São cerca de 1.000 de um total de 26.000 inscritos na Ordem. 700 trabalham em centros hospitalares e outros serviços, como os de combate às dependências. Os restantes, apenas 300, nos centros de saúde. Fazem um acompanhamento mais próximo da comunidade. Para um utente chegar a este profissional, tem de ser referenciado pelo médico de família. É preciso que haja psicólogos no agrupamento porque, se não houver, não há resposta para quem precisa.

O problema está na contratação para o SNS, que é residual e muito burocrática. Em janeiro foram colocados mais 40 psicólogos mas o concurso tinha aberto há 5 anos. O Bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues, diz que fará diferença nos locais onde forem colocados mas a resposta no SNS continua a ser insuficiente.

Em setembro de 2021, um relatório da Ordem dos Psicólogos indicava que 1 em cada 5 portugueses são afetados por problemas de saúde mental. Os dados já tinham em conta o contexto pandémico mas ainda não refletiam o impacto da guerra na Europa e da crise económica, que se agravou nos últimos meses. A Ordem estima que, para dar resposta à população, seria preciso pelo menos o dobro dos profissionais que atualmente trabalham no SNS. A falta de profissionais resulta em longas listas de espera.

"Neste momento vemo-nos obrigados a afunilar os critérios cada vez mais. Isto é frustrante e angustiante. Por que é que vou deixar estes casos de fora e dar prioridade a outros?", diz Cristina Pinto, responsável do núcleo de Psicologia ACES Loures/Odivelas.

Sem outra alternativa, a resposta mais imediata passa, muitas vezes, pela prescrição de psicofármacos. Segundo os dados mais recentes do Infarmed, no primeiro semestre do ano passado, foram vendidos quase 11 milhões (10.871.282) de embalagens de ansiolíticos, sedativos e antidepressivos. Trata-se de um aumento de 4,1% em relação ao mesmo período de 2021, em que foram vendidos 10.439.500. “Para a esmagadora maioria das intervenções, não precisamos de intervenção psicofarmacológica. Mesmo quando é necessária, é preciso que seja complementada com intervenção psicológica.”, explica o Bastonário.

O diretor do serviço de Psicologia do Centro Hospitalar S. João, Eduardo Carqueja, lembra que a saúde é um conjunto: saúde física e psicológica. O psicólogo pede, ainda, que o Governo se lembre de todos os profissionais de saúde, além dos médicos e enfermeiros.

Contactado pela SIC, o Ministério da Saúde não se mostrou disponível para prestar esclarecimentos.

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