Mundo dos Animais

Nina: a minha sombra

A Nina vivia numa associação de resgate animal. Tinha sido encontrada na rua com uma ninhada de bebés que foram todos adotados. A Nina ficou para trás. Até aqui a história é igual a centenas de tantas outras.

Nina: a minha sombra
Paula Antunes

No início de 2015, vivia com o fascínio de conhecer a natureza do cão. Tinha um gato com 15 anos e decidi adotar um cão em janeiro. Foi uma revelação.

As suas qualidades, características e benefícios. As brincadeiras sem descanso, os passeios intermináveis, a companhia constante e a fidelidade inabalável. Tinha resgatado o meu cão da rua, e também por isso fiquei mais sensibilizada e atenta ao trabalho que as associações de resgate animal faziam num país que ainda tão pouco faz pela causa animal.

Decidi começar eu também a fazer a minha parte e escolher uma associação que não fosse de uma grande cidade, por saber que essas têm normalmente mais pessoas a ajudar e maior facilidade em fazer recolha de alimentos nos supermercados. Foi assim que escolhi contactar o Refúgio Animal Angels.

A primeira entrega foi agridoce. Por mais quantidade que se leve, é sempre muito pouco para o que é preciso. E ver tantos cães a olhar para nós com olhar pedinchão é duro.

Em outubro de 2015, o meu cão passava algumas horas por dia sozinho. As horas normais para quem tem de sair para trabalhar, mas demasiadas para mim. Decidi arranjar uma "cãopanhia" para ele.

Combinei visita ao Refúgio, expliquei o meu propósito. A preferência era apenas adotar quem mais estivesse a precisar. Recebi quatro fotos de sugestão, uma agradou-me bastante, duas mais ou menos e a quarta, não simpatizei nada com ela.

O responsável do Refúgio foi precisamente buscar primeiro aquela com a qual eu menos tinha simpatizado, percebi imediatamente que era muito medrosa.

Como chovia, fomos para um armazém para nos conhecermos. O meu cão, ela e eu.

Ela foi para a ponta oposta e lá ficou. Sempre que tentava aproximar-me, ela afastava-se. O meu cão ia e vinha, lambia-a e voltava para mim, ia de novo ter com ela e regressava. Parecia mesmo estar a dizer: anda que ela é de confiança. Não resultou.

Com uma enorme tristeza, estava quase a desistir. Estava muito traumatizada e eu senti-me impotente para esse desafio.

Até que o responsável entra no Armazém e diz: “Então Nina estás aí ao fundo?” Ela apressou-se para ele tímida, mas a cauda abanava com tamanha velocidade e acredito que a vi a sorrir. Percebi que aquela cadela também sabia gostar de alguém. Decidi logo ali que havia de conseguir conquistá-la.

Trouxe a Nina connosco sem lhe conseguir fazer uma festa.

Durante uma semana, se eu estava na sala, ela no quarto, se eu estava no quarto, ela na sala. Só era vencida pela excitação do kiko na hora de pôr a coleira para ir à rua, aí rendia-se e lá vinha timidamente.

Pouco a pouco, a Nina foi vencendo o medo. Esquecendo os traumas. Revelou-se um animal muito carente. Passo horas a fazer-lhe festas, mas do mimo todo que lhe dou, ela retribui inúmeras vezes mais. Tornou-se a minha sombra.

Eu consegui ocupar o coração dela e ela completou o meu.


Texto de Paula Antunes

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