Curiosidades da Ciência

Meter o dedo no nariz não só é feio como é perigoso para a saúde

Quando enfiamos o dedo no nariz, também estamos a introduzir germes e substâncias nocivas para o nosso organismo. Cientistas explicam como lidar com os “macacos” do nariz.

Meter o dedo no nariz não só é feio como é perigoso para a saúde
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É um facto: todos nós metemos o dedo no nariz quando achamos que ninguém está a ver. E não somos só nós, outros primatas também o fazem. Sabemos que não é um ato muito bonito mas o pior é que pode desencadear problemas de saúde e os cientistas suspeitam que pode contribuir para o desenvolvimento da doença de Alzheimer.

Investigações científicas ao muco nasal têm revelado conclusões surpreendentes, como a importância da sua cor no despiste de doenças ou até ser ele próprio fonte de doenças.

Num estudo publicado na revista Nature, investigadores do Menzies Institute of Health da Universidade Griffith, na Austrália, concluíram que meter o dedo no nariz provoca infeções das vias nasais pela bactéria Chlamydia pneumoniae (responsável, por exemplo, pela pneumonia) que é capaz de chegar ao cérebro e causar demência.

Os cientistas introduziram gotículas de C. pneumoniae em ratinhos com narinas irritadas por uma substância química e acompanharam o percurso da bactéria.

“Em apenas três dias, as bactérias chegaram ao cérebro através dos nervos olfativo e trigémeo”, explica um dos autores do estudo, James St John. "O nervo olfativo no nariz está diretamente exposto ao ar e é uma via de acesso ao cérebro que contorna a barreira hematoencefálica”.

Nos dias e semanas que se seguiram à infeção, o médico descobriu no cérebro dos ratinhos marcadores que são um sinal revelador da doença de Alzheimer.

“À volta das células infetadas pela bactéria, observámos a presença da proteína beta-amiloide, um sinal de alerta dessa patologia neurodegenerativa”, explicam os cientistas.

E nos seres humanos? A C. pneumoniae já foi detetada nas placas amiloides no cérebro de pessoas que morreram com Alzheimer – e não foi encontrada em pessoas sem demência.

Outras bactérias além da C. pneumoniae poderão percorrer o mesmo caminho para o cérebro humano.

“Acreditamos que outras bactérias e até vírus, como o da covid-19, podem também entrar através desses nervos e virem a contribuir para a doença de Alzheimer”, disse James St John.

Outras bactérias transportadas pelos dedos

Num outro estudo, os cientistas detetaram outras bactérias que vivem nos nossos narizes. E “portam-se” tão mal como a Chlamydia pneumoniae.

Staphylococcus aureus (S. aureus) é uma bactéria que pode causar uma variedade de infeções, de leves a graves, e é frequentemente encontrada no nariz.

“Meter o dedo no nariz está associado ao transporte de S. aureus. Superar o hábito pode ajudar anular as estratégias de colonização do S. aureus”, segundo o estudo.

Ou seja, a bactéria pode ser transportada do nariz e levada pelo dedo até uma ferida, por exemplo, onde facilmente entra no organismo, representando um sério risco.

Meter o dedo no nariz pode ser também uma forma de transmissão de Streptococcus pneumoniae, responsável pela pneumonia entre outras infeções.

Conclusão: enfiar um dedo no nariz é uma ótima maneira de enfiar os germes ainda mais no corpo ou espalhá-los pelo ambiente com o dedo “ranhoso”.

Há também o risco de arranhões e escoriações dentro das narinas, o que pode permitir que bactérias patogénicas invadam o organismo. Mexer compulsivamente no nariz ao ponto de se magoar chama-se rinotilexomania.

De que são feitos os “macacos" do nariz?

As células nasais - chamadas células caliciformes (dada a sua aparência em forma de cálice) - geram muco nasal.

Durante os cerca de 22 mil ciclos respiratórios por dia, o muco nasal forma um filtro biológico muito importante para prender poeiras, vírus, bactérias, bem como substâncias potencialmente nocivas como chumbo, amianto ou pólens para que não penetrem nas vias aéreas, onde podem causar inflamação, asma e outros problemas respiratórios.

O muco nasal e os seus anticorpos e enzimas são, assim, a linha de frente de batalha do sistema imunitário para defender o corpo de infeções.

A cavidade nasal também possui o seu próprio microbioma. Às vezes, essas populações naturais podem ser perturbadas, levando a vários problemas, como a rinite. Mas, em geral, os nossos micróbios nasais ajudam a repelir os invasores.

A poeira, os micróbios e os alérgenos capturados pelo muco acabam por ser ingeridos à medida que o muco escorre pela garganta. Isso normalmente não é um problema, mas pode exacerbar a exposição ambiental a alguns contaminantes.

Por exemplo, o chumbo – uma neurotoxina prevalente na poeira doméstica e na terra. Por isso, pioramos a nossa exposição a produtos tóxicos ambientais específicas se inspirarmos ou comermos “macacos” em vez de os deitar fora, assoando o nariz.

Agora já tirei, o que devo fazer ao “macaco"?

Já percebemos que não devermos mexer no nariz, mas e agora? Também não devemos comê-los, já que tal significa ingerir todos aqueles germes inalados que ficaram presos no muco, substâncias nocivas ou alérgenos.

Também não devemos colá-los debaixo da mesa - um presente nojento para alguém encontrar e uma ótima maneira de espalhar germes.

A opção menos má: usar um lenço de papel e deitar tudo para o lixo.

Certifique-se que depois lava as mãos com muito cuidado porque até que o muco seque completamente, os vírus infeciosos permanecem nas mãos e nos dedos.

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