Abusos na Igreja Católica

Partidos não perdoam declaração de Marcelo sobre abusos sexuais na Igreja

O Bloco de Esquerda deu o pontapé de saída nas críticas ao Presidente da República, mas a indignação estendeu-se a mais partidos.

Partidos não perdoam declaração de Marcelo sobre abusos sexuais na Igreja
RODRIGO ANTUNES/Lusa

O Presidente Marcelo está a gerar uma onda de críticas, sobretudo nas redes sociais, depois da declaração que fez a propósito do número de casos (424) que chegaram à Comissão Independente, que está investigar os abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica portuguesa.

À margem de um evento no Palácio de Belém, e em resposta aos jornalistas quando questionado sobre se ficou surpreendido com o número, Marcelo não hesitou e respondeu: “Não, não. Aliás tenho acompanhado deste o início a atividade da comissão” e, acrescentou, "não há limite de tempo para estas queixas”. E justificou.

"Há queixas que vêm de pessoas de 90/80 anos que denunciam o que sofreram há 60, 70 ou 80 anos. O que significa que estamos perante um universo de milhões de jovens ou muitas centenas de milhares de jovens que se relacionam com a Igreja Católica, pelo que haver 400 casos não me parece particularmente elevado. Noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos”

O Bloco de Esquerda, pela voz do líder parlamentar Pedro Filipe Soares foi o primeiro a criticar, classificando as palavras de Marcelo “como um insulto às vítimas”.

E se, entretanto, nas redes sociais, muitos cidadãos anónimos se juntaram a esta crítica, também outros partidos o fizeram. PAN, Iniciativa Liberal, Chega e o Livre já vieram a público apontar o dedo ao chefe de Estado e exigir “um pedido de desculpas às vítimas e ao país”.

Inês Sousa Real, do PAN, considera “incompreensível” o que diz ser “a desvalorização dos abusos sexuais de menores na Igreja por parte do Presidente da República”, aproveitando para recuperar outra polémica que envolve o Presidente, o “inaceitável contacto que fez ao bispo José Ornelas”.

Pela voz do Livre, Rui Tavares, alerta o “senhor Presidente” para o facto de as declarações poderem “ter por consequência minimizar o sofrimento e desencorajar quem ainda procura forças para falar”.

Mais longe vai a Iniciativa Liberal (IL) que defende que “Marcelo Rebelo de Sousa deve um pedido de desculpas às vítimas e ao país”, lamentando a IL “profundamente o comportamento do Presidente da República” e anexando aos seus tweets uma imagem do chefe de Estado numa igreja.

Na mesma rede social, o líder do Chega afirma “que declarações tão infelizes de Marcelo Rebelo de Sousa", alinhando com a posição da IL, de que o Presidente “deve pedir desculpa às vítimas e não menorizar o seu sofrimento”.

Esta terça-feira, em conferência de imprensa, o coordenador da Comissão salientou que os 424 casos são aqueles que foram validados pelos membros porque “o número mínimo de vítimas será muitíssimo maior do que as quatro centenas”. Desse total, 17 depoimentos já seguiram para o Ministério Público (MP).

Pedro Strecht sublinhou, porém, que a “maior parte já prescreveu”. Aliás, a prescrição é a razão que explica a "grande diferença" entre o número de situações reportadas e as 17 que foram já remetidas ao MP. Sobre este ponto, adiantou ainda que "agora existem mais 30 situações em estudo para idêntico procedimento" na justiça.

"Existem diversas situações em que o mesmo alegado abusador é referido por diferentes pessoas ao longo dos anos, o que reforça a noção de risco de prossecução temporal deste tipo de atividade e em locais diversos onde vão sendo colocados para exercer atividade religiosa", observou Pedro Strecht, que disse também existirem contactos com a Polícia Judiciária sobre situações já reportadas a esta instituição e que, por isso, "dispensam nova sinalização ao MP".

As denúncias e testemunhos podem chegar à comissão através do preenchimento de um inquérito 'online' em darvozaosilencio.org, através do número de telemóvel +351917110000 (diariamente entre as 10:00 e as 20:00), por correio eletrónico, em geral@darvozaosilencio.org e por carta para "Comissão Independente", Apartado 012079, EC Picoas 1061-011 Lisboa.

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