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O adeus de João Sousa, o "conquistador" da era mais dourada do ténis nacional

Aos 35 anos, o tenista vimaranense encerrou esta quarta-feira a carreira profissional em singulares ao mais alto nível, depois de se ter tornado num exemplo para várias gerações e ter aberto as portas aos jovens tenistas portugueses.

O adeus de João Sousa, o "conquistador" da era mais dourada do ténis nacional
Carlos Rodrigues

O 'conquistador' João Sousa colocou esta quarta-feira um ponto final na era mais dourada do ténis nacional, na qual, à base de uma garra e profissionalismo impares, foi pioneiro em quase tudo e, durante anos, se bateu com lendas mundiais.

Tudo começou há 32 anos, quando brincava com uma raqueta quase do tamanho dos seus três anos, enquanto o pai e tenista amador Armando Marinho de Sousa jogava no Clube de Ténis de Guimarães.

O ténis passou a fazer parte regular da vida do vimaranense aos sete anos e o primeiro título surgiu com a vitória no Campeonato Nacional de sub-12, ao bater na final Gastão Elias.

Barcelona, onde tudo começou

Desde então, os triunfos sucederam-se amiúde e a paixão pela modalidade levou-o a convencer o pai, juiz de profissão, e a mãe Adelaide a permitir a mudança, aos 15 anos, para a BTT Tennis Academy, em Barcelona.

Cumprindo a sua parte no compromisso com os pais, de não descurar os estudos na Catalunha, Sousa evoluiu igualmente enquanto tenista na escola espanhola, onde conheceu o também português Frederico Marques, que viria a tornar-se num dos grandes amigos e, mais tarde, seu treinador de sempre.

Depois de ter optado pelo ténis em detrimento do futebol, modalidade que chegou a praticar no Vitória de Guimarães até aos 14 anos, e de um curso de medicina, área em que ambicionava formar-se, 'Joey' tornou-se profissional das raquetas em 2007, seguindo o exemplo do seu ídolo de infância, o espanhol Juan Carlos Ferrero.

Em 17 anos, o português somou conquistas atrás de conquistas e escreveu história sem par no ténis nacional, um historial, que juntamente com as suas origens, lhe valeu o cognome de 'conquistador'.

Em 2012, alcançou o que nenhum português tinha conseguido

A 15 de outubro de 2012, entrou pela primeira vez no 'top 100' do ranking ATP e por lá se manteve durante 403 semanas. Ininterruptamente, foram quase oito anos (339 semanas) entre os 100 melhores do mundo, algo jamais alcançado por um tenista português.

Conquistou quatro títulos ATP em 12 finais disputadas (Kuala Lumpur em 2013, Valência em 2015, Estoril Open em 2018 e Pune em 2022) -, o mais importante no Clube de Ténis do Estoril, onde se tornou no primeiro campeão português do torneio -, representou Portugal duas vezes nos Jogos Olímpicos (Rio2016 e Toquio2020), também algo inédito, teve 33 internacionalizações por Portugal na Taça Davis e atingiu o 28.º lugar no 'ranking' ATP, em maio de 2016.

Alicerçado no seu espírito de sacrifício, guerreiro e eloquente, marcou presença, durante anos a fio, em todos os Masters 1.000 e torneios do Grand Slam, tendo como melhor resultado os oitavos de final no Open dos Estados Unidos em 2018 e em Wimbledon em 2019, ano em que sofreu as primeiras contrariedades físicas graves.

Últimos anos marcados por um calvário de lesões

Uma fissura no pé esquerdo obrigou-o a terminar precocemente essa temporada, antes da pandemia da covid-19 ter marcado mais um ano difícil para o vimaranense, que contraiu uma tendinite no braço direito no torneio de Antuérpia e que o levou a colocar, pelo segundo ano consecutivo, um ponto final na época antes do previsto.

O quarto título ATP na Índia em 2022, numa final disputada em três 'sets' com o finlandês Emil Ruusuvuori, ainda revigorou João Sousa, mas a esperança de voltar a exibir-se ao mais alto nível foi novamente contrariada por problemas físicos, nomeadamente nas costas.

Apesar do 'calvário' de lesões nos últimos anos, o sempre combativo, às vezes, até explosivo, e educado Sousa jamais deixou de acreditar, nunca baixou os braços, nem a intensidade no trabalho dedicado para tentar ser o melhor dentro de um 'court' de ténis, onde chegou a defrontar os lendários Roger Federer, Rafa Nadal e Novak Djokovic, número um mundial, entre muitas outras estrelas do ténis mundial.

Adeus aos courts com muitas lágrimas à mistura

Aos 35 anos, encerrou esta quarta-feira a carreira profissional em singulares ao mais alto nível, depois de se ter tornado num exemplo para várias gerações e ter aberto as portas aos jovens tenistas portugueses, que ao longo dos anos foi acolhendo enquanto timoneiro da Seleção Nacional da Taça Davis. O legado ímpar, esse, foi criado por quem sempre acreditou e lutou, o 'conquistador' João Sousa.

No court central do Clube de Ténis do Estoril, o vimaranense de 35 anos, que recebeu um convite da organização para disputar o único torneio ATP português, foi derrotado pelo 37.º jogador mundial pelos parciais de 7-5 e 6-4, em uma hora e 50 minutos.

Único tenista nacional a conquistar títulos ATP (quatro), entre os quais o Estoril Open de 2018, Sousa deu por encerrada a carreira de singulares, na qual alcançou o 28.º lugar do ranking mundial, o melhor registo de sempre de um jogador luso.

Com LUSA

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