Esclerose múltipla: cientista investiga novas terapêuticas

Esclerose múltipla: cientista investiga novas terapêuticas

No Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS), na Escola de Medicina da Universidade do Minho, a cientista Ana Mendanha Falcão desenvolve um projeto, financiado pela Fundação “la Caixa”, que procura novas terapêuticas para tratar a esclerose múltipla.

Cerca de oito mil pessoas sofrem de esclerose múltipla em Portugal, uma doença neurológica inflamatória e degenerativa que afeta o sistema nervoso central e é incurável. Manifesta-se, sobretudo, em jovens, em especial mulheres, entre os 20 a 40 anos.

A Esclerose Múltipla ainda não tem cura, podendo apresentar sintomas como fadiga, depressão, fraqueza muscular, alteração do equilíbrio da coordenação motora ou dores articulares.

Para investigar novas terapêuticas que contribuam para tratar a doença a cientista Ana Mendanha Falcão, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS), na Escola de Medicina da Universidade do Minho, desenvolve o projeto “O Papel do Plexo Coróide na Mielinização e em Esclerose Múltipla”, financiado pela Fundação “la Caixa”.

A principal inovação desta investigação é “a perspetiva diferente de como atingir a regeneração das células perdidas em esclerose múltipla para poder atrasar e/ou parar a doença”, explica Ana Falcão.

No essencial o estudo que está a desenvolver com outros investigadores “pretende compreender como é que o conteúdo do liquido cefalorraquidiano, que é produzido por um tecido designado plexo coróide, pode influenciar a regeneração das células do cérebro. Mais concretamente, regenerar as células que são perdidas na doença de esclerose múltipla, os oligodendrócitos”.

A ideia nasceu durante o seu pós doutoramento quando estudava “os mecanismos que levam à formação de oligodendrócitos, que são precisamente um tipo de células muito afetadas em esclerose múltipla. O próximo passo foi estudar estas células em contexto de doença e perceber como podemos potenciar a sua formação”, conta.

Atualmente, a investigação encontra-se numa fase exploratória, analisando as diferenças nas células em contexto de esclerose múltipla comparativamente a um contexto onde a doença não existe. Um trabalho para o qual a cientista diz precisar de “muito mais apoio financeiro e também de recursos humanos.”

Seguir-se-á a investigação de “novos alvos terapêuticos e mecanismos da doença que vão resultar da análise que estamos a fazer no momento”.

As principais dificuldades encontradas são semelhantes às existentes em muitas outras investigações científicas. “A burocracia excessiva em Portugal é incompatível com a ciência ao mais alto nível que gostaríamos de fazer.” De resto, “tudo se resolve, faz parte do método cientifico.”

A OMS estima que haja cerca de dois milhões e meio de pessoas com Esclerose Múltipla no mundo. Em Portugal, os dados do SNS apontam para cerca de oito mil pessoas a sofrer desta doença inflamatória e degenerativa que afeta o sistema nervoso central e é incurável. Ana Falcão quer reverter isso

“Uma coisa que eu me comprometi a fazer foi implementar as técnicas e modelos necessários ao projeto, cá no ICVS. Por exemplo, a técnica que permite sequenciar o RNA [codificação genética] de células individuais.” Isso permite ter informação da expressão genética de determinados tipos celulares que são raros e, por isso, difíceis de investigar.

“Os cérebros foram colhidos e fatiados, nós agora conseguimos recolher os núcleos das células do plexo coróide e vamos ver qual é o perfil de expressão genética deles.” Exemplifica e começa a falar por códigos, sussurrando-os e enunciando de cor alguns nomes científicos de células. No caso dela, este software serve para sequenciar o plexo coróide de pacientes com esclerose múltipla, em tecido post mortem.

A ideia aqui é tentar perceber se existem mudanças na expressão genética no plexo coróide em EM, e se estas têm alguma implicação para a formação da mielina.”

Ou seja, ao analisar a informação de todas as células individuais que compõem os plexos coróides na EM e “comparando com os controlos [sem doença], pretendemos descobrir novos agentes moleculares na EM”.

Dessa forma, querem encontrar vias “para modular as moléculas nascidas no plexo coróide, para restaurar a mielina e, assim, melhorar o resultado clínico dos pacientes com esclerose múltipla”. Os resultados desta investigação poderão, assim, abrir novas possibilidades terapêuticas para a EM. “O que eu espero é que o meu estudo seja uma peça de um puzzle que alguém vai agarrar e juntar com as peças de muitas outras pessoas [cientistas]”, reflete a bioquímica, acrescentando que só dessa forma poderá resultar num avanço em EM. “Eu não sei o que vou descobrir, mas quando juntamos as peças há sempre um progresso."