“Musicar”, para melhorar a vida das pessoas com autismo

“Musicar”, para melhorar a vida das pessoas com autismo

Estimular e comunicar com pessoas com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é o principal objetivo do projeto “Musicar” desenvolvido pela Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA) de Setúbal

A musicoterapia é uma das melhores aliadas na terapia das pessoas com perturbações do desenvolvimento, contribuindo de forma importante para a sua reabilitação e qualidade de vida.

Em Setúbal, o projeto “Musicar”, iniciativa da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA) que já contou com o apoio da SIC Esperança, em 2017, é dirigido a crianças, jovens e adultos com incapacidades.

Carmen Cristino, vice-presidente da associação, explica que a musicoterapia, além de promover competências musicais, “estimula a entrega espontânea ao mundo das sensações, desenvolve motivações e favorece a expressão, comunicação, linguagem e interação social.” Promove igualmente o desenvolvimento psicomotor, “particularmente ao nível dos vários fatores da praxia fina, melhora a capacidade de concentração e a autoestima.”

Ao utilizar a música como um dos meios para a estimulação das pessoas com perturbação do espetro do autismo, pretende-se “contribuir para a reabilitação e reeducação funcional e a melhoria do seu bem-estar físico e psíquico, promovendo deste modo a igualdade de oportunidades para a prática da música e a melhoria da sua qualidade de vida, bem como de suas famílias”, sublinha Carmen Cristino. Tem também como objetivo “proporcionar, sempre que possível, a inclusão das pessoas com PEA em aulas regulares de música, promovendo a inclusão na sociedade.”

Dificuldades, resiliência e mais projetos

A pandemia veio inevitavelmente prejudicar esta atividade, assim como todas as outras desenvolvidas pela associação, cuja principal dificuldade é “obter financiamento, quer por parte de entidades públicas, quer privadas”, diz a responsável da associação.

A necessidade de garantir a segurança de todos os participantes e a higienização dos espaços, “veio acentuar esta dificuldade, uma vez que existem encargos acrescidos com a aquisição de todos os materiais necessários não só para toda a equipa técnica, como para os participantes das nossas atividades.”

Além da musicoterapia, a APPDA-Setúbal desenvolve diversos outros projetos, todos baseados na “aquisição e desenvolvimento de competências pessoais, sociais, emocionais, cognitivas, motoras, de autonomia, comunicação e linguagem, de forma a capacitar e reabilitar crianças, jovens e adultos com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA), com vista à sua integração e inclusão na sociedade”, refere Carmen Cristino, adiantando que todos estes objetivos “são postos em prática tendo sempre em atenção “as competências de cada pessoa com PEA, a sua liberdade, individualidade, bem como o fim último a que a intervenção diz respeito.”

Na lista de outros projetos a desenvolver pela associação, contam-se o “Capacitar para Reabilitar!”, tendo em vista a realização de terapias especializadas, como Psicologia; Terapia da Fala ou Psicomotricidade; Atelier’s Funcionais, vocacionados para o desenvolvimento de atividades de vida diária; Natação Para Todos, com aulas de natação adaptadas; Oficinas de Promoção de Competências para a realização de atividades lúdicas e pedagógicas; Psicologia do Adulto, com sessões de psicoterapia para facilitar o processo de compreensão e aceitação do diagnóstico de PEA e visando a melhoria da qualidade de vida pessoal e familiar e Entre Pais, que inclui sessões de sensibilização/informação e de partilha de experiências entre os pais.

No total, a APPDA apoia cerca de 100 pessoas com PEA, um trabalho que conta com os apoios do Instituto da Segurança Social, do Instituto Nacional para a Reabilitação (INR), do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), das Câmaras Municipais de Setúbal e de Sesimbra; da Junta de Freguesia da Quinta do Conde; Secil e Delta.

As dificuldades que a associação tem enfrentado ao longo do tempo, não a desviou do seu caminho. Pelo contrário, “fortaleceu a sua resiliência”, diz Carmen Cristino. “A capacidade de adaptação e de resolução de problemas de toda a equipa é neste momento uma das suas mais valias e encaramos isso de forma bastante positiva”, afirma. “Permite-nos olhar para o futuro de forma mais consciente, com a elaboração de projetos” focados nas pessoas com PEA e suas famílias, sempre com o fim último de garantir os seus direitos.