Saúde Mental

Como a pandemia está a mudar a saúde mental dos idosos e das crianças

Os centros de dia e de convívio na Região de Lisboa e Vale do Tejo estão encerrados desde que a Covid-19 chegou a Portugal. Já lá vão mais de sete meses. A SIC Notícias falou com a responsável do Clube Sénior que começa a identificar algumas fragilidades na saúde mental dos idosos. Também nas crianças, já há psicólogos a prever consequências por causa das novas regras nas escolas.

Como a pandemia está a mudar a saúde mental dos idosos e das crianças

Fragilidades psíquicas nos idosos

Virgínia Barros ocupava as tardes, antes da pandemia, no Clube Sénior da Fundação Liga, em Lisboa. Faz parte do grupo de 29 idosos que se reuniam nas instalações, na Ajuda, para conviver e participar em várias atividades. Está no Clube desde fevereiro de 2008. Desde aí que a vida se tornou mais preenchida. Era raro faltar.

A pandemia trocou-lhe os planos. À SIC Notícias, contou que agora ocupa os dias a lavar a loiça, a limpar a casa, principalmente de manhã quando tem "um bocadinho mais de coragem". Da parte da tarde, senta-se numa cadeira e por lá fica a pensar na vida. Sai aos domingos para ir à missa. Vai saindo durante a semana para ir à farmácia ou ao banco.

Sobre o que sentiu quando percebeu que tinha de ficar confinada em casa, Virgínia diz que se sentiu, e ainda sente, triste "por todos os motivos".

"Primeiro uma pessoa não podia sair de casa. Depois o medo porque ninguém sabia o que isto era. Toda a gente começou a saber que isto para os mais idosos era mortal, para os que tinham mais complicações. Depois pela falta do convívio das colegas, das atividades, de não podermos ir passear".

Domicília Oliveira, de 73 anos, também faz parte do Clube Sénior, da Fundação Liga. Está lá desde o ano da fundação do clube: 1999. Já lá vão 21 anos. Não saiu de casa durante dois meses. Vive sozinha, na Ajuda, em Lisboa. Agora, já vai saindo de casa, mas tem receio. Quando lá está, cupa-se com a horta e faz remodelações.

"Em qualquer sítio que entro ponho a máscara. Tenho na minha mala sempre um frasquinho com álcool e gel para pôr sempre nas mãos quando mexo em qualquer coisa", explicou à SIC Notícias. Domicília faz parte de um grupo de risco. É idosa e tem vários problemas de saúde. Bronquite asmática, sinusite, otite crónica e rinite alérgica, contou.

Os centros de dia e centros de convívio de Lisboa e Vale do Tejo estão encerrados desde março. O convívio foi bruscamente interrompido há sete meses por causa da pandemia. As instituições de outras zonas do país puderam reabir a partir de 15 de agosto. No entanto, o Clube Sénior, por se localizar em Lisboa, continuou encerrado. Para já, não há perspetivas para reabrir. Os técnicos tiveram de criar alternativas para combater a solidão dos idosos.

A coordenadora do Clube Sénior, Cristina Passos, contou à SIC Notícias que a fase da quarentena foi "muito complicada". A prioridade foi combater a solidão. Desde aí, o acompanhamento tem sido feito à distância, com duas videochamadas de grupo por semana e, nalguns casos, telefonemas diários. Conversam e fazem jogos.

Antes da pandemia, quem fazia parte do Clube Sénior, era autónomo a nível físico e psíquico. No entanto, a psicóloga e coordenadora começa a identificar mais fragilidades físicas e cognitivas em alguns utentes. À SIC Notícias afirmou que vão ter de criar mecanismos diferentes no Clube Sénior quando voltar a abrir para cobrir as fragilidades na saúde mental dos utentes do Centro de Convívio.

"Há uma enorme preocupação e algum desacreditar de que algum dia isto possa vir a melhorar e, neste sentido, o maior desafio neste momento é continuar a dar alguma esperança".

As crianças e os pais. A separação depois de meses em casa

"Se por um lado pode ter sido muito agradável estar mais próximo dos pais, também não nos podemos esquecer que muitos continuaram a trabalhar e não foi fácil gerir o trabalho durante o dia com as crianças em casa. Nas crianças, por um lado, pode ter apaziguado alguma sensação de isolamento e de afastamento dos pais, por outro lado pode ter agudizado a sensação de estarem com pais pouco atentos. Apesar de estarem ali fisicamente, não estão disponíveis para dar atenção, para entreter, para conversar, para dar mimo", explicou a psicóloga clínica Manuela Bispo que trabalha há vários anos com crianças e adolescentes.

Manuela Bispo explica que tem havido casos de crianças que não querem separar-se dos pais para irem à escola.

A psicóloga referiu ainda que as novas normas e rotinas nos estabelecimentos de ensino não ajudam: "as regras estão todas alteradas. Não há a proximidade que havia com professores e alunos, têm de manter a distância, têm de falar de máscara. Há aqui pormenores de comunicação não verbal que lhes foge. Não sei bem que repercussões terá, mas que terá, terá e muitas delas não serão positivas".

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